O que têm em comum Meloni, Erdogan, Orban, Trump, Le Pen, e Bolsonaro? Tudo. São alguns dos protagonistas de uma ascensão da direita mais radical e extremada, mas sufragada e desejada pelos eleitores. E essa guinada, que se está a espalhar, é um fenómeno que tem explicação. E não é boa para os partidos tradicionais.
O centro, de direita e de esquerda, está sem soluções para um eleitorado preocupado e a viver uma crise de identidade, com a soberania financeira, fronteiriça e judicial a deixar de estar nas mãos dos seus Estados, ou dos seus Governos. Quem manda está em Bruxelas, e no Banco Central. E quando a instabilidade se avoluma, os mais conservadores, que não gostam de mudanças, apostam em partidos extremados, à direita, na ilusão de evitar sobressaltos.
O fenómeno está a generalizar-se, e os partidos do sistema estão inseguros nas suas opções políticas e estratégicas. O caso da Grã-Bretanha é exemplar: o Governo de Liz Truss acabou de anunciar um terramoto fiscal, que não é maior do que o de Thatcher e Reagan, no seu tempo. Os impostos das pessoas, das famílias e das empresas têm de baixar, e muito, e se o Estado precisar de dinheiro, que se endivide. É inverter a lógica dos Governos tradicionais., como o nosso. Truss já virou.
Londres pode dar-se a esse luxo, porque tem a dívida mais baixa do G7, mas Roma obedece aos padrões da união monetária, o que não coincide com o discurso de Meloni em campanha. Menos Bruxelas, e mais Roma. Esta viragem está longe de abrandar, na Europa. Pelo contrário, agravou-se com a pandemia, a guerra, a inflação, os juros e a escassez de matérias-primas, levando os bancos centrais a aplicar medidas recessivas, em completa contramão, neste quadro global específico.
Os remédios dos bancos centrais são o reflexo da escassez de ideias inovadoras, ousadas e eficazes. A cura para esta crise global, que deriva de fatores incontroláveis, não está no aumento precipitado dos juros, para induzir o coma no mercado e nas pessoas. Deveria ser o oposto. Não se admirem, depois, que os eleitores guinem para discursos inflamados, que tocam nas suas angústias e incertezas.
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