O todo-poderoso Putin abriu uma nova frente de batalha, onde já há vítimas: é a luta contra os seus próprios cidadãos, nas cidades e vilas da Rússia, incluindo Moscovo e São Petersburgo. Há protestos contra a mobilização, e contra a guerra na Ucrânia. Já há detidos, as autoridades estão a usar toda a brutalidade, como sempre, e é visível que a maioria dos manifestantes é jovem, está farta do presidente, e a pedir, em cartazes, que o demitam.
Uma coisa é certa: não há polícias, e muito menos militares, que consigam controlar e prender milhares de manifestantes, se essa revolta se avolumar. Putin está em paradeiro desconhecido, mas o caos na Rússia não é de agora. Os sinais de agitação e crítica direta subiram de tom com a perceção de que a Rússia estava a perder a guerra, que já não era possível esconder o desastre, e que o cortejo fúnebre crescia todos os dias.
Com o seu discurso intimidante, e o plano subjacente de anexar os territórios ucranianos, mais a ameaça direta de usar armas nucleares, Putin ultrapassou os limites da aceitação interna. Se as tropas russas não têm equipamentos, nem reservas, o mesmo está a acontecer, por espelho, com a população russa, que deixou de ter uma vida normal, sem produtos nem bens, e com rublos no bolso que não servem para coisa nenhuma. A linha foi ultrapassada. A paciência está perdida, e as manifestações estão a espalhar-se.
O que os russos querem é muito simples: tirem Putin do poder. Mandem-no embora. Livrem-se dele. E também exigem a saída do Governo, do ministro da Defesa, dos chefes militares, dos deputados, e dos jornalistas e comentadores pagos pelo regime. Todos eles sentirão esse arrepio na espinha, e a inquietação que se estenderá às suas famílias e amigos. É nestas fases que se fazem as golpadas. Os cidadãos russos, finalmente, estão a reconhecer que têm um presidente louco, irresponsável, e capaz de destruir o país. Tudo isto a acrescentar à falta de qualquer sentimento de culpa pelos milhares de mortes e feridos entre as suas tropas. Os novos inimigos de Putin, agora, são os russos.