Putin está por tudo. Que venham os tropas chineses para os exercícios militares conjuntos. Mais a amiga Bielorrússia, e outros dois ou três, que já não contam no baralho. A ideia não tem nada de surpreendente, mas serve para mostrar uma aliança poderosa, indestrutível, e capaz de enfrentar qualquer perigo que venha do Ocidente. Que medo. A fórmula está estafada, os dois vizinhos estão sempre de olho um no outro, mas neste final de Verão vão juntar os trapinhos.
Tudo isto é irónico: nunca os dois países se deram bem, muito menos quando existia a URSS, mas Putin aproximou-se de Xi, nos últimos tempos. Não tanto porque a desconfiança tenha desaparecido, mas antes por razões estratégicas. Os dois países partilham a maior fronteira da região, e com a invasão da Ucrânia era vital para Moscovo assegurar que estava tudo sossegado com Pequim.
Xi tem tudo a ganhar. Compra petróleo e outras matérias-primas a preços de saldo, e as suas forças armadas terão oportunidade de recolher, como é hábito, todo o tipo de informações militares sobre as capacidades russas. O regime chinês é especialista nessa duplicidade. Um dia destes estará a testar uns novos mísseis hipersónicos, que serão a cópia perfeita dos russos. Putin sabe isso, vai tentar esconder tudo, mostrar só as bugigangas, mas dificilmente escapará à persistência do vizinho.
Estas manobras coincidirão com o Dia da Independência da Ucrânia, no dia 24, altura em que deverá ser muito visível a contraofensiva militar de Kiev. Serão momentos peculiares e estranhos: na Rússia fazem-se exercícios vistosos de força, e no Sul e Leste da Ucrânia, unidades russas correm o risco real de ficarem isoladas, cercadas e rendidas. São imagens antagónicas, bipolares, esquizoides.