Não há palavras para explicar, de forma comedida, o pedido de Moscovo para uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, sobre a situação na central nuclear de Zaporizhia. Está tudo de pernas para o ar. O embaixador russo queixa-se dos ataques militares, e pede proteção para o perímetro ocupado pelas tropas russas, junto dos seis reatores, como se a central fosse deles, estivesse em território russo, e a ser bombardeada continuamente pelos «invasores ucranianos». Há, nisto, um grau de loucura difícil de quantificar. Não há contador «Geiger» para esta alucinação.
O Conselho de Segurança reúne para ouvir os lamentos de um país que ocupou militarmente uma central nuclear do vizinho? Estamos todos doidos? Claro que a presidência do Conselho está agora nas mãos da China, mas uma conversa destas, neste momento, é estar a abandalhar o mais importante órgão das Nações Unidas. A Rússia, e o boneco que a representa na ONU, quer pôr a Ucrânia na ordem? Quer que o Conselho de Segurança valide a ocupação militar? Com uma resolução?
Ou é agora, justamente nesta situação extraordinariamente perigosa, e «suicida», como disse o secretário-geral, que o Conselho de Segurança se eleva à altura das suas responsabilidades, mesmo com o veto russo e chinês, advertindo abertamente Moscovo, para abandonar a central e entregar aos seus donos legítimos, ou então mais vale acabar com as fantochadas do Conselho, que já nada tem de Segurança.
O que o secretário-geral deveria fazer, com o apoio de três membros permanentes, e dos outros não permanentes, era convocar uma Assembleia Geral Extraordinária para encostar a Rússia à parede, com uma resolução determinante, de advertência direta, e de exigência de saída imediata das forças militares russas, e impondo uma zona desmilitarizada em redor da central. Era o mínimo.
Putin brinca com a ONU, com o Conselho de Segurança e, por tabela, com quase todos os países do mundo, excluindo os idiotas úteis. As Nações Unidas são achincalhadas, desprezadas, e não abrem a boca. Não gritam. Não expulsam. Não impõem a ordem internacional. O único gesto sério, dos membros do Conselho de Segurança, era deixar a Rússia, e a China, a falar sozinha. Sem som, nem luzes. Acabava-se a bandalheira.