Ninguém sabe, por agora, qual era o objetivo do «raid» do FBI à propriedade de Trump, na Flórida. O mandado de busca aprovado por um juiz, doador do Partido Democrático, está selado. Especula-se que teve a ver com caixas de documentos que o ex-presidente levou da Casa Branca, alguns dos quais contendo materiais classificados. Também se admite que poderá ter sido uma diligência no âmbito de outros processos. Ninguém sabe, por enquanto.
O que se percebe, contudo, é que o FBI prestou uma grande ajuda política e eleitoral a Trump, e aos eleitores republicanos, nas intercalares do próximo dia 8 de novembro. Não poderia ter sido melhor, e tão bem feito. Espantoso. Se a ideia partiu de Trump, ou de um amigo, então é genial. De repente, ao início da manhã, em «Mar-a-Lago», o Partido Republicano, mais a base radical de apoio a Trump, e muitos indecisos, que odeiam o espetáculo de força das autoridades policiais, receberam o impulso final que ajudará a virar o Congresso.
A tolice do FBI é desconcertante. Dezenas de Agentes, armados até aos dentes, mais veículos espampanantes, com sirenes a gritar, no portão da residência do ex-presidente, como se fosse uma operação militar contra o novo líder da Al-Qaeda, transformou-se numa ação ridícula, desproporcionada, e dificilmente explicável. Por uma razão simples: Trump, ou qualquer outro ex-presidente, está permanentemente guardado por uma equipa volumosa de agentes dos Serviços Secretos, que não o deixam «fugir» para lado nenhum. Provavelmente até eles foram apanhados de surpresa, tendo em conta as imagens divulgadas: estavam equipados para combate, com colete e arma automática, e tinham na propriedade o corpo de agentes fardados.
Biden não sabia, diz, o Procurador-Geral está enfiado num armário, e o diretor do FBI, que por acaso foi nomeado por Trump, vive em lugar incerto. Que cena! Picaresca. Caricata. Burlesca. Nunca tinha acontecido a um ex-presidente – que está sempre guardado e vigiado – e a dedução de motivação política da operação passou a ser óbvia. Não dava para lá ir, discretamente, e executar o mandado judicial? As caixas desapareciam? Eram trituradas? Os documentos iam pela sanita abaixo?
O resultado é que a recandidatura oficial de Trump, às presidenciais de 2024, foi anunciada, com espetáculo e foguetório, pelo FBI. O juiz está irritado, escrutinado e atemorizado, os Serviços Secretos furiosos, e Donald Trump a recolher mais valias inesperadas. Afinal não é só Biden que estraga tudo. O FBI também. E muito. Não parecendo, já escolheu o presidente para 2024.
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