Convém não confundir. O que os russos querem, ou desejam, ou gostariam de ter, não tem nenhuma coincidência com o que Putin faz. Ou o seu «gang» militar, ou dos serviços secretos. 170 milhões podem desejar muito acabar com esta guerra, mas o «assassino do Kremlin» (John Sweeney), escondido num buraco, com uma pistola e uma mala de dólares, tem planos grandiosos para a Ucrânia, Moldova, Geórgia, Polónia e Estados Bálticos.
Uma sondagem divulgada pelos media de Moscovo, todos eles de uma independência reconhecida e certificada, exceto os que foram encerrados, por falta de isenção, revela que 60% dos russos quer acabar com a guerra. Estarão fartos, poderia deduzir-se. Mas também 60% concorda que Putin agiu muito bem ao atacar Kiev. Estando empatados, quem vai a jogo são 59% de inquiridos que acha que a operação militar especial está a prolongar-se por muito tempo. Em que ficamos?
Qual é o objetivo político desta sondagem, que foi feita no Kremlin? Como Putin é obsessivo, interfere, por isso, em todo o tipo de decisões. Sejam elas políticas, militares, económicas, financeiras ou mediáticas. Encurtando argumentos, ditou as perguntas, e as respetivas percentagens, e mandou publicar.
À primeira vista, contudo, os números não o favorecem. Se a maioria quer acabar com a guerra, Putin está em contramão. Parece, mas não é. Putin, megalómano e mitómano, atinge três objetivos apenas com uma sondagem: confirma-se que os russos queriam dar uma lição aos ucranianos, acham que seis meses bastam, e é a altura de acabar. Auscultado o povo, com números inquestionáveis, o presidente russo está agora habilitado a ponderar uma saída triunfal. Kiev levou uma carga de pancada, forte e feia, e a pedido dos russos – do secretário que fez a sondagem -está chegado o momento de encontrar uma saída.
A ideia da sondagem está muito bem orquestrada: já não era possível esconder as 80 a 120 mil baixas, entre mortos e feridos, nas Forças Armadas russas na Ucrânia, de acordo com fontes militares americanas e europeias. É um exército inteiro aniquilado. A eficácia das novas armas ucranianas está a deixar os russos sem saber o que fazer, que não seja fugir, não lutar, abandonar as posições. Já nem a Crimeia é segura.
Nota para amanhã: Trump pediu ajuda ao FBI, a três meses das eleições, e não é que foram na conversa?
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