As manobras militares da China no Estreito de Taiwan, com munições reais, e o lançamento de 11 mísseis balísticos, em redor de toda a ilha, violando a Zona Económica Exclusiva do Japão, estão a gerar um clima de pré-guerra preocupante. Taiwan, para não falar do Japão, tem um dos melhores e mais bem equipados exércitos do mundo, e da Ásia, que rivaliza e até ultrapassa, em alguns casos, a China. Pequim vai continuar a realizar estes jogos perigosos, cujo efeito imediato é isolar a ilha – que é um arquipélago – de todo o tipo de tráfego civil, aéreo e naval.
Estes exercícios, e as forças envolvidas, testam o que seria a fase inicial de uma operação militar chinesa para ocupar Taiwan, mas cujo sucesso, se um dia fosse decidido, levanta sérias dúvidas. A Força Aérea, os mísseis intercetores, e as baterias de mísseis de defesa costeira de Taiwan estão preparadas para travar qualquer aventura chinesa. Esse é o verdadeiro dilema de Xi Jinping.
Poderia aproveitar esta crise para tentar engolir Taiwan, mas sabe que não conseguirá, nesta altura, e apenas com armas convencionais. Xi tem um segundo problema: não quer passar pela mesma vergonha de Putin, e das forças militares russas, que estão a ser travadas e destruídas, todos os dias, pelos ucranianos. Quem reivindica o título de segunda maior potencia mundial não poderá correr esse risco reputacional, e Taiwan não é propriamente uma Ucrânia, que foi apanhada sem armas nem munições.
O perigo destes exercícios, e desta provocação militar, completamente desproporcional à visita da senhora Pelosi, está no erro de cálculo, ou mau funcionamento, de um míssil, de uma barragem de artilharia, ou de uma incursão aérea, que poderá desencadear uma resposta das forças militares de Taiwan. Nesta fase tudo pode acontecer, e Pequim sabe que há um limite, muito fino, quase invisível, a partir do qual se entra numa guerra aberta. E Xi, não sendo Putin, não é um pistoleiro que acha que toma conta da ilha com um tiro de Revólver. Taiwan é, e sempre foi, um pesadelo militar para a China, mas com os milhões de soldados que tem, e pode convocar, pode cair na tentação de querer um banho de sangue.
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