Nesta fase da guerra, e com Moscovo em tensão aguda, não é sensato, nem aconselhável, tentar isolar o enclave russo de Kaliningrado, situado entre a Polónia e a Lituânia, e sem nenhuma ligação ao território russo. Vilnius anunciou que iria bloquear a passagem pelo seu país de várias mercadorias enviadas pela Rússia, nos termos das sanções impostas pela União Europeia, mas o argumento parece difícil de sustentar. Se os bens vêm da Rússia, e são transportados entre o seu território, não estão abrangidos pelas sanções.
A história de Kaliningrado é uma vergonha, por omissão, dos britânicos e americanos na partilha dos despojos da Alemanha de Hitler. Esta cidade era a capital histórica da Prússia, foi declarada fortaleza pelos nazis, e custou milhares de mortos à URSS, na Segunda Guerra Mundial. Com Roosevelt em fim de vida, e Churchill estafado, Estaline ficou com a cidade e arredores, declarando-a território da URSS, e expulsando todos os alemães.
Estaline sabia o que queria, e essa vantagem está agora nas mãos de Putin: é uma cidade-porto fundamental para a frota russa do Mar Báltico, está no meio de dois países da NATO, e carregada de mísseis nucleares. Mexer aqui é brincar com megatoneladas de TNT. A União Europeia já veio esclarecer a confusão, e os lituanos, por agora, ainda não fizeram nada, mas Moscovo não larga o filão do medo e confusão, que se pode instalar na Europa de Leste. Sendo território russo, uma vez mais, nenhuma sanção poderá impedir o tráfego de bens e pessoas do mesmo país. Parece óbvio, e indiscutível. Mas nunca se sabe.
Este deverá ser um dos temas a esclarecer pelo Conselho Europeu de quinta e sexta-feira, para evitar qualquer nervosismo acrescido, que possa dar a Putin um motivo para mais uma embrulhada. Por todas as razões, esta cimeira terá de ser marcada, e não ofuscada, pela aceitação formal da candidatura da Ucrânia, e da Moldova, à União Europeia. Esse passo será histórico e só engrandece os aliados europeus. Kaliningrado é outra História.
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