A Rússia de Putin, e não a Ucrânia, está a jogar tudo o que tem na batalha de Severodonetsk, no Donbas. As tropas e equipamentos frescos, mas a maioria esgotados e desgastados, estão obrigados a dar a Putin uma conquista residual, que lhe permita dizer que a operação militar especial atingiu os seus objetivos. Para os ucranianos, que em algumas zonas estão em desvantagem de 1 para 7 militares, a luta final e a vitória não está nessa cidade, ou nesse ponto pouco estratégico, mas na decisão de infligir o maior número de baixas ao Exército russo, e destruir, pouco a pouco, os tanques, blindados e artilharia, aviões e helicópteros, como fizeram em Kiev e Kharkiv.
O comando militar da Ucrânia está a ganhar o tempo necessário para colocar nessa frente todo o equipamento que está a entrar no país, mas que requer equipas e tripulações ainda a ser treinadas no exterior. São poucos os militares que já estão a atuar nessa frente, com a artilharia de longa distância, drones, blindados e mísseis, mas os «Javelin», e outros sistemas antitanque, e os «Stinger» continuam a desbaratar as peças de museu dos russos. Para não falar do sucesso inquestionável do «Bayraktar». Já existe um crowdfunding para comprar mais drones à Turquia, que custa dois milhões por exemplar.
Mais reservados do que nunca, os aliados que apoiam a Ucrânia estão em contato permanente com o comando militar de Kiev, tanto para trocar informações decisivas sobre o teatro de operações, como para enviar o material mais adequado para esta batalha. Os EUA, a NATO e a União Europeia garantem que Putin não ganhará esta guerra, custe o que custar. E o presidente russo tem plena consciência disso. E está com medo. É visível. É percetível.
Putin luta em duas frentes: no Kremlin e na Ucrânia. As duas misturam-se, e já ninguém quer uma paz que o salve da destruição e dos crimes cometidos contra os ucranianos. A feroz batalha de Severodonetsk – que em boa verdade é um confronto feito à distância, com mísseis e artilharia – é a repetição de Mariupol. A velha estratégia de Putin, que vem de Estaline, é destruir e arrasar tudo o que existe, indistintamente, para depois entrar, com tropas e blindados, nas ruínas do furacão militar. Esta estratégia é bastante mais idiota do que parece: o que vale um Donbas todo destruído? Tanto quanto uma cratera na Lua.
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