Foi-se o atrevimento do coronel russo Mikhail Kodaryonok, na televisão estatal russa. Há dois dias desancou a invasão da Ucrânia, e destapou o cenário negro e real das dificuldades militares da Rússia. Agora, alguns recados vigorosos depois, o oficial foi outra vez à TV, mas apenas para minimizar as capacidades das forças ucranianas. O «pé de orelha» do Kremlin, presume-se, terá sido vigoroso e inequívoco.
Nesta Rússia de Putin não há desvios discursivos, sobressaltos em direto, ou comentadores militares desalinhados. O que é que lhe deu, na verdade? Admitia-se, até, que Kodaryonok poderia ter sido usado como o mensageiro que preparava o país para as más notícias, mas afinal não foi o caso. Na versão original disse a verdade, atirou-se à cadeia de comando, e destruiu a convicção de Putin de que a Ucrânia acabaria no espaço de um pequeno-almoço. No «remake», foi tudo ao contrário. Não deverá aparecer muitas mais vezes!
Putin não dorme, muito menos os seus gorilas, e o descarado e impertinente coronel já está arrumado, amansado e controlado. Nunca ninguém disse essas verdades na televisão russa, sem pagar caro. Muito caro.
Não é que o coronel estivesse errado, mas essa irreverência poderá ser catastrófica. Para ele, para a família, e para os amigos. Por momentos, alguns minutos, Mikhail Kodaryonok achou que não vivia em Moscovo. Se Putin acabou de «arrumar» mais dois generais, da longa lista de militares purgados, a que título é que um simples coronel, já reformado, poderia perturbar o Kremlin? Que ousadia.
A invasão está parada, à espera de uma «arma maravilhosa» – a mesma conversa de Hitler, em 1945 – e o «momento» passou para as mãos dos ucranianos. As forças russas estão esgotadas, na defensiva, e a tentar segurar, por fios, o que ocuparam há quase 3 meses, no Donbas. Eles, os russos, sabem que os ucranianos já venceram. Tal como previa o insensato coronel.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.