A Turquia, como é muito frequente nestes processos, quer elevar o custo político, militar e económico da entrada da Finlândia e Suécia na NATO. É um país quase fundador da Aliança – entrou três anos depois – as suas Forças Armadas têm um grande peso entre os 30 países, estando logo a seguir aos EUA, e a sua localização geoestratégica é fundamental. Sabendo disto tudo, Erdogan escolheu três objetivos, que pretende alcançar:
- Tem eleições em 2023, coisa que não o preocupa muito, no seu estilo de presidente autocrata, mas o país está a sofrer um impacto muito negativo na economia, com a moeda a desvalorizar brutalmente, em resultado do Covid e da guerra. A Turquia precisa de ajuda económica urgente, e esta é a altura para os aliados mais ricos, incluindo os que vão entrar, mostrarem solidariedade efetiva. Instabilidade na Turquia, nesta fase, seria o sinal errado para a Rússia de Putin.
- Sendo militarmente poderosa, a Turquia depende dos equipamentos militares da NATO, em particular dos Estados Unidos. Emprestados, dados ou vendidos, Erdogan tem uma oportunidade única para construir um arsenal ainda mais poderoso, mas para isso precisa do presidente Biden, e do Congresso americano. Esta vontade turca coincide, agora, com esta renovação histórica da Aliança Atlântica, e esta Casa Branca, que tem ligado muito pouco à Turquia, vai ter de reativar o bom entendimento entre os dois países.
- Por último, Erdogan tem, ao seu estilo, a preocupação com o que considera grupos terroristas curdos – alguns deles também assim classificados pelos dois novos aliados – mas é óbvio que a Finlândia e a Suécia terão de construir uma relação funcional e próxima com a Turquia, que nunca existiu. E nesta troca de desejos, Erdogan não esquecerá as sanções aplicadas ao seu país, quando ocupou território sírio.
Somando tudo, e mais a tradição de um bom entendimento com Moscovo, e com Putin, o presidente turco já mostrou o peso que tem na NATO, a que juntou uma longa lista de exigências, que os 31 terão de desembrulhar, nos tempos mais próximos. As coisas (entre Estados) são o que são!
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