A pouco menos de 90 dias da invasão da Ucrânia, Putin está política e militarmente paralisado, com um terço do seu Exército perdido, incapaz de repor o material destruído, colocado numa posição defensiva, sem amigos e aliados de peso, economicamente estrangulado, e com permanente receio de um provável golpe militar e dos serviços de segurança. Destruiu a estabilidade interna, fez o país recuar mais de 20 anos, e a reputação da Rússia, como grande potência política e militar, foi arruinada. É obra, em apenas 90 dias. Nunca um império se desfez a esta velocidade.
Não há saída para o presidente russo. Ou já não há. E por muito desequilibrado que possa estar, há no Kremlin uma resistência cada vez mais aberta à suas decisões, e as patentes militares intermédias, até ao nível de coronel, e major general, sentem que foram colocados numa posição de total humilhação pelo ministro da Defesa, e pelo implacável conselheiro de segurança russo. Eles são os primeiros a saber que os biliões distribuídos pelos oligarcas, e as imensas fortunas saídas da Rússia, impediram uma modernização séria das Forças Armadas – ela própria com os seus oligarcas – e a prova está a ser feita na Ucrânia.
O golpe final, no mapa geoestratégico, aconteceu agora com o fim da neutralidade dos vizinhos nórdicos da Rússia, a Finlândia e a Suécia, que deixaram de estar dependentes da volatilidade de Moscovo, agora ou depois. Como é que se explica isso aos russos, que estão cada vez mais inquietos e desconfiados das decisões do seu presidente, das suas explicações absurdas, e dos seus planos falhados? A população russa não gosta de ser tomada por parva, não quer voltar ao «antigamente», nem perder instantaneamente a qualidade de vida a que já estava habituada, e era merecida.
Um homem só, cada vez mais alheado, e incapaz de aceitar uma derrota coloca-se a jeito para um golpe. Pouco a pouco, todos os dias, Putin vai perdendo poder, e credibilidade, junto dos militares, dos serviços secretos, do aparelho federal, e da importante cadeia dos Governos regionais que constituem a Federação. Putin está a acabar. Chegará o dia em que a sua própria guarda pretoriana o encerrará num palácio, ou numa dacha, ou num bunker, cortando-lhe todas as ligações com o exterior. Será um golpe tão simples como isto, e já testado na antiga URSS.
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