Não sendo membro, coisa que jamais poderia acontecer, o presidente da Rússia está a ter um papel decisivo na Aliança Atlântica. É o mecenas que está escondido na sombra. E é, já agora, o maior traidor de si próprio, e da Rússia. A Finlândia e a Suécia vão anunciar a sua decisão de adesão até ao final da semana, e uma NATO que estava frágil e a ressentir-se das loucuras de Trump, e cada vez mais afastada do seu objetivo primário, transformou-se, de repente, na mais poderosa aliança militar do mundo, que vai crescer para 32 países, e com isso fechar as portas de saída a Putin, que está a ficar sem opções.
Biden, Macron e Xi suspiram por uma solução que não humilhe o presidente russo – ao que se chegou! – mas que se mantenha a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, mais as compensações russas pela destruição avulsa daquele país, e a prisão e julgamento de todos os criminosos de guerra. Não está nada fácil. Quem ordena o lançamento de três mísseis hipersónicos para destruir um centro comercial e dois hotéis, já está a rapar o tacho.
O senhor Putin, que tinha fronteiras com países da NATO de apenas 894 km, 4% das fronteiras terrestres russas, vai agora ter de lidar com 2207 km, sendo que 1300 km são da Finlândia. A Suécia não conta, porque não partilha fronteiras. Mesmo assim, e para acabar com a conversa de Moscovo, a NATO aumentará para 11% nas fronteiras com a Rússia. Eles, em Moscovo, vão ter, a prazo, um outro problema: a entrada da Ucrânia somará mais 1576 km. Mas, por comparação, para se perceber o ridículo, a China tem uma fronteira de 3645 km, e o Cazaquistão, que condenou a invasão, e que não obedece a Putin, atinge quase os 7 mil km.
Qual é o medo, afinal, do presidente russo? Não podem ser esses escassos 2 mil quilómetros. O que o assusta, e cada dia que passa é sempre pior, é que a Rússia não tem Forças Armadas à altura da NATO. Toda a ajuda em material militar que está a ser enviada à Ucrânia, e que é uma ínfima parte do que utilizariam se fossem atacados, travaram um exército e uma Força Aérea de 150 mil soldados, apenas com armas defensivas. A invasão da Ucrânia pôs a nu a total fragilidade e velhice do arsenal militar russo, a incapacidade de coordenação de comando, e a pobreza logística assustadora. A única coisa que fazem, agora, é lançar mísseis e artilharia, a grande distância. Os soldados e oficiais russos desobedecem às ordens, não arriscam ataques com tanques, outros blindados, aviões e helicópteros, porque o rasto de destruição que viram é assustador. Não podendo vir a ser condecorado pela NATO, por ser o chefe dos criminosos de guerra, será sempre uma referência na grandeza histórica da Aliança.
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