Sem fanfarras, Nancy Pelosi, «speaker» da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, terceira na hierarquia de comando, em caso de impossibilidade do presidente e da vice-presidente, foi a Kiev dizer a Zelensky que esta guerra só pode ter um vencedor: a Ucrânia. Esta senhora é brava, intrépida e corajosa. Só é uma pena ser do partido democrata, acho.
Tem 82 anos, vai a eleições em novembro (bem pensado!), preside à Câmara com mão de ferro, rasgou um discurso de Trump em plena sessão do Estado da União, e mostrou agora que manda no seu próprio protocolo de segurança, quase tão rígido como o do presidente dos Estados Unidos. Estava ela em Kiev, acompanhada por membros do Congresso de alto nível, enquanto Biden ouvia e mandava umas piadas no habitual jantar de gala dos correspondentes da Casa Branca. Faz toda a diferença.
Nunca ninguém lhe perguntou se devia ir a Kiev, nunca disse que não a deixavam, e a senhora, sem mais delongas, pôs-se a caminho, mostrou à Rússia que não se brinca com o Congresso, o verdadeiro centro de governação dos EUA, e ainda chamou «rufia» a Putin, e ao bando de pistoleiros que o apoiaram nesta invasão.
Biden já pediu mais 33 biliões de dólares para ajuda militar e humanitária à Ucrânia, e o Congresso foi o primeiro a dizer ao presidente, para não perder tempo, que poderia usar uma lei de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, para enviar com urgência o que for necessário. Ou é agora que Biden faz tudo, para a Ucrânia vencer, e com a maioria democrata nas duas câmaras do Congresso, ou a partir de janeiro, com as eleições em novembro, correrá o sério risco de ficar bloqueado.
Esta «speaker» não é para brincadeiras. Só é pena, muita, que não tenha tido uma conversinha com Putin, naquela mesa de seis quilómetros. Toda esta guerra de morte e devastação teria acabado, sem nunca começar. O «rufia» teria levado um puxão de orelhas, logo para abrir, e se viesse com a habitual litania, sujeitava-se a um estaladão.