Volodymyr Zelensky fez um dramático apelo a Portugal, e aos portugueses: os ucranianos precisam do nosso apoio, em todas as frentes, políticas e militares, agora e mais tarde, e foi descritivo nos massacres cometidos pelas tropas russas. Lembrou a nossa luta pela liberdade, evocando o 25 de Abril, e tocou-nos, profundamente, com uma comparação arrepiante: Mariupol tem o tamanho de Lisboa, também cidade portuária, e está totalmente destruída, arrasada, devastada. É impactante.
Olhar para a aniquilação de Mariupol, em 56 dias, e “transportar” essa imagem para Lisboa é um choque tremendo, mas foi justamente isso que o presidente da Ucrânia quis lembrar aos portugueses. É a realidade daquela cidade, da fábrica de aço, totalmente cercada, mas invicta. Em cada discurso que faz, Zelensky tem a preocupação de personalizar, comparar e recordar o presente e o passado de cada país. É altamente eficaz. Portugal não pode ter reservas na adesão da Ucrânia à União Europeia, o mais depressa possível, nem à NATO, quando chegar o momento.
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, respondeu com um discurso poderoso, excelente, e até emocionante. A Ucrânia pode contar com Portugal, foi a sua mensagem, em nome dos portugueses, e Zelensky ouviu-nos, a todos, naquelas palavras fortes, que nos prestigiam. Foi um dos melhores discursos que alguma vez ouvi. Teria de ser, nesta ocasião solene e trágica.
Mariupol é para Putin, o que Estalinegrado foi para Hitler. O rosto da derrota. O presidente russo mandou parar de lutar contra a muralha de aço, convencido de que a posse do resto da cidade, que poderia ser Lisboa, será suficiente para celebrar uma vitória. Também Hitler deu o mesmo passo, e fez o mesmo anúncio. Mas chegará o momento, não muito distante, em que o exército ucraniano romperá as linhas russas e homenageará os heróis civis e militares que resistiram à barbárie. Quando um presidente começa a tomar decisões tácticas, substituindo-se aos generais, está verdadeiramente perdido. À beira do segundo desastre militar.
