Putin, se encostado à parede, desesperado, louco, decidir usar uma arma nuclear, como avisam os EUA e Zelensky, mesmo que táctica, não será possível travar a escalada nuclear, e nenhum país estará resguardado desse apocalipse. Deixem-me ser claro: Portugal, ao contrário do que já foi dito em comentários muito inventivos, numa das nossas televisões, também está ao alcance, e no raio da tríade de armas nucleares da Rússia.
O uso de uma arma nuclear, mesmo que só em território ucraniano, implicará uma resposta em igual medida da NATO, e isso desencadeia o cenário do disparo múltiplo preventivo (pre-emptive), ou de antecipação, para assegurar que a outra parte também seria aniquilada, antes que o mesmo aconteça a si próprio. É este o conceito fundamental em que assenta a dissuasão nuclear, que é a Destruição Mútua Assegurada. Quem tem pode usar, mas será igualmente destruído. A escalada é o pilar dissuasor em que assentam estas armas.
Ao contrário de uma arma química, ou biológica, que exige algum tempo para se confirmar, uma explosão nuclear é instantaneamente detetada, e o tempo de reação, para evitar a aniquilação, é quase imediato, com todos os meios disponíveis, em terra, ar e mar. É esta tríade de armas nucleares, instaladas em diversos lançadores, que atinge qualquer país. Numa troca nuclear não há paraísos, ou abrigos seguros.
E mesmo que houvesse, que algum país ou região não fosse diretamente atingida, o que restaria do mundo era inabitável, inviável, sem possibilidade de sobrevivência a curto, médio e longo prazo. As armas nucleares são verdadeiramente apocalíticas, devastadoras, e finais. Pensar-se, com ligeireza, que se pode usar apenas uma, no teatro de operações, e depois pedir desculpas, não é um conceito político ou militar que se aplique a este tipo de arsenal. Passada essa barreira, essa linha, todos lançam tudo o que têm, para assegurar a destruição mútua.
No «Dia Seguinte» (foi feito nos anos 80, e muito discutido, um filme com este nome, apenas para plateias restritas) não haverá sobrevivência digna desse nome. Restará apenas um Inverno nuclear, radioativo, sem sol nem vida, onde os que sobreviveram só desejarão morrer. Putin pode atingir a loucura, mas a nossa esperança coletiva reside na consciência humana de uma cadeia de comando que teria de obedecer e executar uma ordem dessas. Convém acabar com um mito: Putin, ou Biden, ou Macron, ou Boris Jonhson não têm ao seu dispor um botão para lançar armas nucleares. Não é assim. O poder que têm obedece a um protocolo muito rígido, permanentemente testado, e cabe-lhes apenas a validação final para iniciar o disparo. Nenhum deles é o dono do botão, que não existe, na «mala nuclear».
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