A Ordem dos Médicos prevê que Portugal atinja os 50 mil casos diários ainda esta semana, no ranking dos contagiados, na Europa, por milhão de habitantes, estamos no sexto lugar, e esta vaga ainda só contabiliza as festarolas do fim do ano, a reabertura das escolas e o fim do teletrabalho obrigatório. Em fevereiro vamos apanhar com os efeitos da campanha eleitoral, que está a distribuir Ómicron por tudo o que é lado. É a progressão eleitoral da variante. Se fosse medida em sondagem, a Ómicron teria maioria absoluta.
Nada a fazer, dizem. É a campanha, argumentam. É a política, sublinham. Tudo isso é verdade, mas uma maior cautela, menos arruadas, poucos mercados, e raros comícios em recintos fechados ajudaria muito nos números da pandemia. Tudo, ao mesmo tempo, não é conciliável. Alguns dos líderes políticos arriscam-se a ser contagiados – elevada probabilidade – e isso não ajudará nada em fase de campanha.
Portugal, apesar da vacinação, que tem sido uma ajuda determinante, está a atingir, ou já atingiu, o estado crítico no SNS, em internamentos, UCI e mortes diárias, no modelo de Avaliação de Risco da Ordem e do IST (não se percebe a falta de atualização diária!). A rapidez de propagação da Ómicron, que contagia dezenas de milhares de pessoas por dia, terá sempre um impacto perturbador na capacidade de resposta do sistema de Saúde. A todos os níveis, que não apenas nos hospitais.
Estamos para ver no que tudo isto vai dar. A OMS insurge-se contra a narrativa sobre a leveza dos efeitos desta variante, lança alerta sucessivos, mas prevalece, na opinião pública, o sentimento de ligeireza e de cansaço com a pandemia. É garantido que a vacinação atenua as capacidades do vírus, mas não impede que 40 ou 50 mil pessoas se contagiem todos os dias. E isso resulta numa lenta progressão dos internados e mortos, que arrasa e destrói. Ser cauteloso na campanha é um gesto político de bom senso. Para todos.