Boris Johnson, que nunca disse que era abstémio, puro, ou imaculado, está sem saber como explicar, aos deputados do seu partido – que escolhem ou derrubam um líder – as festas fartas, animadas e bem bebidas das sextas-feiras, em Downing Street. Não é a quantidade de vinho, e bebidas espirituosas, que está em causa, ou que levante grande indignação, mesmo na residência e local de trabalho do primeiro-ministro, mas a altura em que beberam. Aí sim, está a chatice de Boris. Que nunca se atrapalha.
O «graças a Deus é sexta-feira» não é apenas o título de um filme dos anos 70, ou 80, mas um estado de espírito audacioso, que é a marca de água do chefe do Governo britânico. Boris, que conseguiu a proeza de publicar dois textos analíticos, no «Telegraph», a favor e contra o Brexit, sempre se notabilizou pelos seus excessos, estilo de vida, e temperamento jovial. É um poeta, que escreve em grego, para puxar dos seus galões académicos, conquistados em Eton e Oxford. Foi jornalista, deputado, «mayor» de Londres, ministro dos Negócios Estrangeiros, e agora primeiro-ministro.
As festas de sexta, para ele, na sua vida turbulenta, estrondosa e traquina, são uma ótima ideia para encerrar uma semana de trabalho governativo. O calendário é que o tramou. Só isso. Já pediu desculpas, ninguém se lembrou do Covid, e das restrições – até por causa disso – nem do recato exigido com a morte do príncipe Filipe. Foi um lapso, apenas. De circunstância, e não de substância. Boris Johnson sempre gostou de festas, de copos, para esquecer o quanto tem que trabalhar para sustentar os seus 6, ou 7, ou 8 filhos. Por agora. E sabe-se lá.
Como sempre viveu em sarilhos e traições, e não será agora que se vai preocupar muito com os membros do seu partido no Parlamento. A turbulência é o modo e vida do primeiro-ministro da Grã-Bretanha. A Rainha está indignada, calcula-se, mas Boris já foi a Windsor, com o seu sorriso malandro e gaiteiro, para aplacar a fúria real. E pedir desculpas, outra vez. E lembrar, a Sua Majestade, que álcool e charutos nunca faltaram no nº10. Nem sextas-feiras.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.