Rui Rio vai lutar pela sua liderança. Faz bem, mas faz tarde. Dizer que avança, quase um mês depois das autárquicas, mostra indefinição e fraqueza. Queria adiar as diretas e o Congresso, ansiava por mais tempo para avaliar o estado de espírito dos militantes do PSD, e isso só mostrou que não sabia o que fazer à vida. Com Lisboa e Coimbra na coluna do PSD, qualquer líder seguro só teria de dizer, na noite eleitoral, que queria uma grande vitória nas diretas, para enfrentar o PS, quando o momento chegasse. Agora, ou daqui a pouco.
Pelo contrário, Rio sentiu-se sem chão, percebeu que a vitória de Lisboa era tudo menos o seu posicionamento ideológico, e a estratégia seguida nos últimos anos, e esse sabor amargo, que abriu de imediato portas para Paulo Rangel, foi-se sentindo com a passagem dos dias. O PSD não está, há muito tempo, nos carris certos, na sua bitola de centro-direita, e essa mudança, esse pedido urgente dos eleitores apareceu na vitória de Carlos Moedas.
Rio calou-se, fechou-se, anunciou que estava a avaliar os dados da equação, e agora decidiu avançar. É o melhor que poderia acontecer para quem disputa o seu lugar. Ganhar por falta de comparência não seria bom para Paulo Rangel e, reconheça-se, já agora, que o líder do PSD é um homem de coragem, teimoso, e partidário de grandes lutas políticas. Rio nunca sairia da liderança do PSD pela porta traseira. Isso é importante.
Por um momento, por um instante, Rui Rio teve nas mãos a possibilidade de garantir inequivocamente a sua liderança, mas fez tudo ao contrário. Em vez de pedir ao Conselho Nacional que antecipasse as eleições e o Congresso, por causa de uma eventual crise política e queda do Governo, Rio propôs um adiamento eleitoral. E perdeu. E foi bem-feito. Como se fosse possível ir em força a umas legislativas, sem estar legitimado pelo Congresso. Aí sim, terá perdido o PSD, mas ganhou, de imediato, um adversário credível e de peso.
O PSD tem de voltar a ser Poder. Rapidamente. Urgentemente. Em 20 anos, o PS governou 14, e ainda a contar, e se o PSD não quiser passar a ser um partido dispensável, descartável e irrelevante, tem de tirar o PS do Governo. Ou é alternativa, ou arruma as botas.
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