Vacinar os jovens dos 12 aos 15 anos não pode transformar-se num problema político, para o qual nenhum país europeu, isoladamente, tem uma solução. Do ponto de vista científico a não vacinação tem uma argumentação muito frágil, embora tenha merecido sempre toda a ponderação dos peritos– estamos a falar da infinitésima possibilidade de um jovem poder desenvolver uma miocardite, como efeito secundário – mas essa fase já foi ultrapassada nos países mais avançados na vacinação, incluindo, claro, da União Europeia. De forma universal, ou com algumas restrições, que tendem a acabar, essa faixa etária tem de estar protegida. Nisto o Presidente da República tem toda a razão: não é uma questão de princípio, é apenas de tempo.
Depois vem a questão ética e moral, que também se coloca com o gasto de vacinas nesta faixa etária, o que é absurdo, e particularmente com a terceira dose, que já é inevitável, e cuja argumentação fundamental partiu da OMS. Antes da terceira dose, os países mais ricos e poderosos devem ajudar os países mais pobres a vacinar os seus cidadãos. A pandemia nunca se controlará se isso não acontecer. Esta sim, tem de ser a grande preocupação das grandes potências económicas, onde se inclui em lugar cimeiro a UE, que podem e devem comprar e enviar centenas de milhões de vacinas para continentes inteiros.
O controlo de uma pandemia é isso mesmo: ou estamos todos seguros e vacinados, ou andamos a perder tempo e a acreditar numa fantasia. Até agora, ou daqui a muito pouco tempo, os países mais ricos e poderosos já entraram na imunidade grupal, até já adicionaram a terceira dose, que passou a ser a recomendação das autoridades de saúde e reguladores, para que a sua população se mantenha imune. Mas não chega. Sozinhos não conseguimos.
Isto, aliás, nem deveria ser objeto de grandes debates. Biden já disse que os EUA vão comprar e enviar milhões de vacinas, e a Europa, ainda timidamente, também vai fazer. Agora é necessário que venham ajudar todos os outros, desde os pequenos e muito ricos emiratos árabes, que venceram a corrida da vacinação, aos que até desenvolveram vacinas nacionais, como a Rússia e, claro, a China. E não podem fingir que ajudam, com umas caixinhas. Esta luta tão é planetária como a agenda climática, mas muito mais urgente.