Matos Fernandes, um velocista olímpico, que só não vai ao Japão porque não teve tempo de se qualificar (deveria ter mandado o seu motorista), foi apanhado pela TVI a circular a mais de 200 quilómetros por hora na A2. Sem nenhuma hipótese de passar despercebido, como fez o seu colega da Administração Interna, desculpou-se, pedindo a bênção nacional, com o atrevido do motorista. “Não era eu que ia a conduzir”, garantiu. Pois não. Era o que faltava um ministro não ter motorista, e não poder circular a 200 ou 300 quilómetros por hora.
Não sei bem, mas acho que estamos a falar do mesmo ministro que explicava aos portugueses, há uns tempos, que deveriam ser poupadinhos na eletricidade, e escolher a tarifa mais baixa e mais económica, para usufruir de uns descontos milimétricos, e contribuir para a reduções das emissões de carbono. Que rico ministro. Moralista e paternalista no discurso, mas excessivo e perigoso nas deslocações.
Por acaso não matou ninguém, mas deixar que o motorista se transformasse num furioso na estrada, dias depois do que aconteceu com Eduardo Cabrita, é abusar da compreensão e bondade dos portugueses. Diz que não viu, que não se apercebeu, e que por isso está tranquilo e desculpado. Só pode estar a brincar. A gozar connosco. A fazer-nos de parvos. Melhor seria que o seu colega do MAI lhe desse um dos 15 helicópteros que vai comprar com o PRR.
Quem põe mão nestes inconscientes? Quem põe ordem nestes desobedientes? Quem responsabiliza estes imprudentes. Não será, nunca, por respeito à lei. Não será, nunca, por medo de acidentes mortais. Há, nestes dois ministros, que não devem ser os únicos, um sentimento de impunidade, de arrogância e de desrespeito inigualável. Há regras que a eles não se aplicam. Nem a eles, nem a quem os conduz. E conduzir a 200 quilómetros por hora não é uma distração, um episódio sem repetição, um escasso momento de loucura, mas um hábito consciente, percetível e conivente. De tal maneira que o ministro até transmite a ideia (pura especulação) de que estaria a dormir. Ou desligado da realidade. Ou em transição energética.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
