Há cinco ministros, já escolhidos, por todos nós, para uma viagem ao espaço na Virgin Galactic. Quem paga é o PRR, cujo primeiro cheque já brilha nos olhos de alguns deles. As reservas estão feitas, o bilhete vai ser pago, e a escolha do lugar decidida. Para quem vai, e alguns deles até na companhia de Elon Musk, da Tesla, será uma agradável viagem, já que não descolam num foguetão, à bruta, mas num triplo avião, bonito, elegante, e repleto de estatuto. É importante dizer, para os mais invejosos, que o bilhete só custa 250 mil dólares. Nada de extraordinário. O problema é que são cinco. Mas há descontos para grupos. Quem são eles, já agora?
Ministro da Administração Interna: vai no primeiro lugar disponível. Está a precisar de aliviar a tensão acumulada, e só o espaço e a inexistência de gravidade têm esse poder libertador. Este ministro vai sentir-se suspenso, às cambalhotas, e sem nenhuma responsabilidade política. É dinheiro bem gasto. Enquanto lá está, naquele buraco negro, não estará por cá. Também ficamos aliviados.
Ministro de Estado e da Economia: tem estado ausente, desaparecido, pouco mexido na sua pasta, mas isso tem uma justificação: já está a treinar para ser astronauta. Não é um curso de verão, nem um mestrado online, e exige duras provas físicas e mentais. O espaço, visto do avião da Virgin, vai dar-lhe uma dimensão real da Terra, do país, e talvez da crise. É um ministro que necessita de adrenalina pura, em altas doses, e sintetizada pelo corpo. Eventualmente até pode enjoar, mas vai de mão dada com um colega do Governo.
Ministro de Estado e das Finanças: vai para ajudar o titular da Economia. Juntinhos para não terem medo. É ele que paga tudo, mas tem os cofres cheios. É um forreta danado, sempre a ver onde poupa, onde corta, e a Virgin Galactic será o maior dos seus desmandos. Só vai por causa do colega, mas também para ver se há receita fiscal em gravidade zero. O Zero, aliás, é seu número da sorte. Zero no défice. Zero no Orçamento. Zero nas despesas. Dar asas a este ministro será o maior feito de Richard Branson.
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: não podia faltar. É a sua tutela. Vai com a pasta de professor, velhinha, mas resistente, para depois explicar aos seus alunos, quando regressar. Tem muita política, muita filosofia, muita História, mas nenhum espaço. É a viagem que sonhava fazer. Tem tudo a ver com a sua personalidade política: sempre na Lua e nas estrelas. E é senhor de uma capacidade intelectual extraordinária: consegue compatibilizar Freud com Descartes. As curvas com as linhas retas. Se pudesse, ia até Marte. E foi o próprio, com insistência, que pediu para ir. Não havia como recusar. Já lá está, mas falta a experiência física.
Ministro da Defesa Nacional: não é de Estado, mas não precisa: é de soberania. Vai à força. A pedido dos chefes militares, para ver se ganha alguma experiência com a ida para o espaço, e a reentrada na atmosfera terrestre. Não é uma experiência para passarinhos. Sabemos que existe, que temos um ministro na Defesa, mas nunca se dá por ele. Não, não é verdade. Apareceu, de fugida, para virar as Forças Armadas de pernas para o ar. É por isso mesmo que vai arejar. Espaçar (de espaço – que não existe). Gravitar.
Custos para o Estado: 1.250M de euros. Barato e justificado. Com o desconto de grupo fica em 1M. Ninguém se opõe. São uns sortudos. É o que é.
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