Não sei, ninguém sabe, e nunca foi referido o que está a passar o motorista que conduzia o ministro da Administração Interno no acidente da A6, que vitimou um inocente, em trabalho. Do nada, sem aviso, apanhou com um carro de alta cilindrada em cima, à velocidade da luz, presume-se. Se há pessoa que conhece tudo, ao mais ínfimo pormenor, é o motorista de Eduardo Cabrita.
Alguém sabe quem é, tirando obviamente os seus colegas e o gabinete do ministro, bem como a GNR, o INEM, e o MP? Há, contudo, algumas certezas sobre este funcionário público. Vai cair-lhe tudo em cima. Já está, aliás, mas não publicamente. Para além, claro, do choque e depressão que deve estar a sofrer, o motorista foi o braço armado do ministro, que seguia ao lado, e estava cheio de pressa.
Os motoristas de altas figuras de Estado andam sempre no limite, não de velocidade, mas do carro? Nem pensar. Depende do passageiro, e das suas ordens. «Tenho de estar em Lisboa daqui a 5 minutos». Se foi assim, o motorista teve, de repente, de transformar-se num piloto de um F-16. Prego ao fundo, e ainda por cima numa autoestrada que não é propriamente congestionada.
Não há outra explicação, mesmo sendo muito criativo. Tudo somado, quem vai ser julgado é o motorista, quem vai ser penalizado é o motorista, e quem vai ficar pendurado é o motorista. É a ele que Eduardo Cabrita quer proteger? Poderia ser. Não falar, para não prejudicar ainda mais o seu caso.
Mas de quem é a autoria moral desse trágico acidente? A quem cabe responsabilizar-se pela morte inesperada de trabalhador apanhado pelo furação ministerial? É do motorista? Ele é que decidiu passar as marcas? Todas as marcas. Se tivesse sido um acidente «normal», dentro das regras de trânsito, e da segurança rodoviária, mesmo com uma vítima mortal, mas envolvendo um político, toda a situação já teria sido esclarecida.
É preciso acabar com esta farsa: a que velocidade ia o carro, e quem mandou, ou não se importou que fosse excessiva? Não há ninguém, em carro nenhum, que não se aperceba quando circula a alta velocidade. Não há como. A força G sente-se no corpo. O ministro não pode fingir que não viu, e o motorista não poderia carregar no acelerador, de livre iniciativa, sem que o seu passageiro não desse conta. O motorista sabe tudo, e vai apanhar com tudo. Mesmo que diga que recebeu instruções, para chegar a Lisboa em 5 minutos. Onde está o motorista?