O mundo está a passar pela fase de perceber, já sem margem para dúvidas, que a vacina não chega para resolver, controlar e estabilizar a Covid, e com isso as pessoas retomarem a normalidade, sem sustos, vagas, variantes e coisas do género. As vacinas são extraordinariamente importantes para limitar a incidência e transmissibilidade, mas o que faz mudar tudo, radicalmente, num sentido de alívio coletivo, de pandemia desclassificada, são novos medicamentos. Terapias eficazes que combatam a doença com sucesso. É a única saída. Não há mais. Vacinar a 100 por cento, e ter disponíveis, e acessíveis, todas as drogas aprovadas e a aprovar, para colocar a Covid no sítio certo: controlada. Não há, em rigor, terapias medicamentosas que destruam um vírus – exemplo do HIV – mas podem diminuir, atenuar e tornar manejável a doença declarada.
Chegámos à fase em que todos perdemos a ingenuidade. É excecional ter vacinas, e poder vacinar todos, mas o vírus e as suas permanentes variantes, cada vez mais perigosas e rebuscadas, vão continuar a pôr os países em alerta total, avançando e recuando em função das novas estirpes. Se só existirem vacinas, isto nunca mais vai acabar. Estamos agora a toda a pressa a ver se chegamos a um número de imunidade grupal que dê alguma tranquilidade, mas é tentar travar o vento com as mãos, como alguém dizia. Israel, com 100 por cento de vacinados, está a registar surtos de novos contágios. Está percebido. As vacinas, por si só, não são o remédio santo. Sendo que, obviamente, nunca o foram. Nem remédio, e muito menos santo.
É desalentador, mas há como acabar com este túnel da morte. E bom seria, agora, que essa preocupação passasse a dominar os sistemas de saúde de todos os países, e do nosso em primeiro lugar, e dos reguladores que aprovam as drogas experimentais. Tem de se aplicar aos novos medicamentos a mesma rapidez que se usou nas vacinas. Há, já, dezenas de fórmulas, em teste e aprovação de emergência, e a EMA, no caso europeu, não pode ser lenta, burocrática e disfuncional. Descansou com a aprovação tardia das vacinas, mas essa fase ilusória está terminada.
Portugal está a fazer um esforço notável na aceleração das vacinas, a bater todos os recordes diários, mas infelizmente não nos vai descansar. Uma vacina não é, nunca foi, a solução final para os nossos problemas. E agora sabemos isso por experiência própria, e alheia. Portugal tem de alocar milhões para os novos medicamentos, se quer ter um país a funcionar, e fazer desaparecer a matriz de risco. Não há outro caminho. Que seja eficaz. Que seja limpo. Que meta a Covid na gaveta.