A ideia de abrir as patentes das vacinas contra a Covid é, antes de mais, uma desculpa, mal disfarçada, para não se ajudar países e continentes contaminados e esquecidos. Os países mais ricos e poderosos não querem gastar nada, ou muito pouco, na compra de vacinas para oferecer aos mais pobres, e incapazes de proteger sanitariamente as suas populações.
Quando Biden sugere esse passo, com a carga que isso tem, está a aplicar uma velha fórmula, que muito agrada aos bloquistas do seu partido: os ricos que paguem a crise, que neste caso não são os países, mas as farmacêuticas. É uma estratégia destrutiva. Os EUA estão quase a atingir a imunidade de grupo, mais umas semanas, e a partir daí seria suposto enviar milhões de vacinas para dezenas de países com maiores dificuldades. Ou, para ajudar, verdadeiramente, mandar as vacinas e equipas de vacinação. Mas isso custa muito dinheiro, muitos biliões, e não estão para isso.
Abrir as patentes é dizer aos investigadores, universidades e empresas, que não vale a pena investir conhecimento, tempo e dinheiro em vacinas ou medicamentos inovadores e eficazes. Uns criam, e outros aproveitam. Isto é a lógica do menor esforço, e da máxima rentabilidade. Com o argumento, claro, de ser uma decisão humanitária, para a saúde global, e na certeza de que a Covid só será controlada se o mundo atingir a imunidade grupal. Percebe-se. Mas talvez não seja uma boa ideia arrasar com os laboratórios que já têm vacinas, nem com os que ainda estão numa fase mais atrasada. Perturbar agora esta estabilidade, nesta área, seria uma decisão irresponsável. Era voltar à Idade da Pedra.
E por que razão levantar só as patentes das vacinas? Já agora abram tudo. Por exemplo, todas as drogas inovadoras que se usam na imunoterapia contra o cancro. Custam uma fortuna, poucos têm acesso a esses produtos, e milhões teriam outra expetativa de vida. E nem se comparam as taxas de mortalidade. Mas há milhares de outras drogas, novas, e a chegar ao mercado, cujas patentes também deveriam acabar. Passava a fabricar-se tudo na China, e ficava pelo preço dos contentores.