É congolês, de nome Mwazulu Diyabanza, lidera um movimento que luta pelo direito ao reconhecimento dos crimes cometidos pelos países europeus, e exige a restituição dos objetos roubados durante o colonialismo. Em entrevista a João Moreira da Silva, na Visão online, fez-nos um aviso solene: «em breve estarei em Portugal!». Que considera, logo à cabeça, como «o país europeu pioneiro do crime de escravatura e colonização».
Vai ser o diabo. Diyabanza adora entrar em museus e retirar as peças africanas que estão em exposição, exige que os países colonizadores reconheçam os seus crimes, quer que exista uma reparação financeira por esses atos, e a criação de um «Tribunal Cultural Internacional», mais ou menos à semelhança de Nuremberga.
A causa é nobre, e corresponde à verdade histórica. No nosso caso, Diyabanza vai deparar com três desilusões dificilmente sanáveis: os autores dessa vergonha já nada podem dizer, estão cá, mas não andam por aí, a começar logo por Vasco da Gama, e os navegadores que lhe abriram o caminho, como Bartolomeu Dias. Herdeiros não se conhecem, exceto os 10 milhões de portugueses que constituem esta Nação. Tudo isto é uma chatice acrescida, reconheça-se, porque o mundo inteiro acha que os Descobrimentos foram um avanço científico ímpar para a humanidade, só comparável, em miniatura, à chegada à Lua, e agora a Marte, e afinal, como está na moda, não passou de uma trapalhada carregada de crimes e de roubos.
A segunda desilusão, que piora as coisas, é que tudo o que veio dos colonizados, em particular ouro, petróleo, diamantes e produtos idênticos foram esbanjados, vendidos, trocados por essa Europa fora, e não resta nada, nada mesmo, nos cofres nacionais.
A desilusão final, que também é para todos nós, portugueses, é que não temos a mais pequena ideia de quantos, se existem, e onde estão os objetos, peças, tesouros provenientes dos países colonizados. Nunca o Estado fez um levantamento, e ninguém sabe, na verdade, o seu paradeiro. Mas a estarem cá, na nossa posse, em algum museu, cave, armazém ou cofre é inquestionável que devem ser devolvidos. Era o que faltava. Não são nossos, ponto final. E devolvam antes de Diyabanza aparecer.
A história de uma Nação de 900 anos não é linear, nem assética, nem provida de santidade. E muito menos compartimentada. Os passos que foram dados seguem-nos para sempre. E uns foram extraordinários, outros apenas ordinários, muitos banais, e alguns inqualificáveis. Mas é a nossa História. A linha temporal que nos une como Nação.