É uma grande pena. Dava imenso jeito. Calhava mesmo bem. A Comissão Europeia resolveu anunciar que vai acelerar o processo de aprovação de emergência das vacinas contra o Covid. É extraordinário, pela imagem negativa que transmite, que a UE, só no início de março, é que decida consultar os estados membros para acelerar, empurrar, obrigar a Agência Europeia do Medicamento (EMA) a emitir autorizações de uso de emergência – até agora eram apenas aprovações condicionais – e rapidamente, tal como faz o Reino Unido e os EUA, para todas as vacinas que já estão disponíveis, e são muitas, e que podem resolver o problema dos milhões de doses necessárias.
É de cair para o lado. Estavam a dormir. A Comissão está, e ainda bem, sob fogo cerrado e pesado dos Estados membros, e alguns deles já estão a fazer aprovações diretas pelos seus reguladores nacionais. Finalmente perceberam. E o mais espantoso desta notícia, já agora, é a Comissão dizer que quer aprovar o uso de emergência, como se ela própria fosse composta por cientistas e técnicos que fazem essa avaliação. Agora é o vale tudo. O salve-se quem puder. Se é assim, nada como acabar com a EMA, e devolver esse poder aos reguladores nacionais. O que se poupava dava para muitos milhões de vacinas.
A EMA é a imagem ao espelho da burocrática Comissão, tal como pantagruélico e lento Parlamento Europeu, e todas as outras instituições da União. Não é possível deixar nas mãos deles situações que requerem urgência total, rapidez de resposta, e ação direta. É assim na pandemia e na compra conjunta das vacinas, mas também foi nas outras crises que abalaram a Europa, e cuja resposta chegou sempre tarde, já sem efeito prático, e apenas para fazer prova de vida.
E como é que a Comissão Europeia chegou a esta fabulosa constatação de que precisa de aprovar o uso de emergência? Primeiro pelo evidente falhanço nas compras que fez, com entregas a roçar o ridículo, e a ser continuamente alteradas, e depois, mais importante, porque percebeu que desde os finais de dezembro a início de março, o conjunto dos 27 têm uma média de 7,5% de vacinados (e já contando com uma só dose) e para sua, e nossa, vergonha coletiva, o Reino Unido já vai em 31,1%o, ao EUA com 23%, e Israel (que tem a nossa população) com uns fantásticos 94,9 por cento. Para sermos mais claros: se tivéssemos atuado sozinhos, mesmo pagando mais, o nosso País já estaria aberto, e com imunidade de grupo. E, por último, porque vários Estados da União, em particular no Leste, perderam a paciência e já estão a comprar vacinas russas e até chinesas.
Tudo isto é de uma inação insustentável. Não podem demitir a Comissão? Mandá-la fazer pela vida? Trabalhar para outra União? Não é o que fazem os eleitores quando um Governo não governa? Pois, o problema é esse: é que ninguém elegeu a Comissão. São lá colocados pelos Estados. É uma cota para preencher. E já agora encerrem a EMA, porque na verdade, e agora é que se vê, também não serve para coisa nenhuma. Nem aprova vacinas, nem medicamentos. Antes a Sputnik V, do que estes empecilhos (leia-se a Comissão e EMA, por favor).