O vive almirante Gouveia e Melo, coordenador da «taskforce» da vacinação, que merece ser louvado, ele e os que com ele trabalham, pela forma exemplar como estão a funcionar os centros de vacinação, a impecável logística de receção e distribuição das vacinas, e o permanente alerta aos portugueses sobre as falhas nas entregas do mecanismo conjunto da União, deu agora um passo, ou fez uma proposta, que não faz nenhum sentido, é arriscada, não resolve coisa nenhuma, e pode colocar em perigo, e em séria exposição, milhares de vacinados com uma dose.
Na opinião do almirante, e na falta de vacinas, deveria ser atrasada, ou adiada, por semanas, e muitas, a segunda dose da Pfizer e da Moderna, e depois da Astra, para conseguir vacinar mais 200 mil pessoas, no pressuposto que a primeira dose oferece 70 por cento de imunidade aos inoculados, o que sempre é melhor do que nada. É uma proposta feita à DGS e Infarmed, mas esperamos que a recusem categoricamente. É bom que não se comece a fazer coisas pela metade. Deixar o trabalho a meio. Não completar. Género obra de Santa Engrácia.
Neste caso, a ponderação acertada nunca deve ser uma questão de números, mas de cumprir escrupulosamente as indicações científicas das farmacêuticas que fizeram as vacinas. São duas doses, com o espaço de 21 dias, para existir imunidade assegurada de mais de 90 por cento. E mesmo assim existe uma percentagem de risco para quem for vacinado. E também é bom começar pelo princípio: vacinado é vacinado, e não meio vacinado, quase vacinado, à beira de estar vacinado. Por favor, não se ponham a inventar.
Mais: os grupos prioritários, a fase atual, são de alto risco, pela idade, pré-condições e linha da frente, e seria medicamente uma grande irresponsabilidade não acabar, não fazer a vacinação completa. Estes grupos etários e de elevado risco não podem ser sempre os parvos dispensáveis. É nestas idades que mais se morre com o Covid, e atrasando a segunda dose lá voltariam a ser os bombos da festa do vírus. E já agora vamos lá ver se nos entendemos num ponto crucial: a imunidade de grupo só se atinge com 70 por cento da população vacinada (com as duas doses), isto sem contar com as variantes, porque eventualmente a percentagem teria de ser mais elevada, e os nossos totais de vacinação, até agora, não passam de uns míseros 2,5 pessoas por cada cem. O que não podemos fazer é um truque de magia: dizer, um dia, que temos 70 por cento da população vacinada, quando metade dela só tem uma dose. Não dá. As vacinas não foram feitas para isso.
O que Gouveia e Melo tem de fazer, como faz, é toda a pressão para receber as vacinas prometidas, ir pessoalmente buscá-las, se necessário, e vencer esta batalha, como comandante das nossas tropas. Não se desfoque por favor. Nada de batotas ou atalhos. A intenção até pode ser boa, mas do que precisamos é de portugueses vacinados de acordo com o protocolo médico e científico que foi aprovado. Nem mais, nem menos.