Ascenso Simões, deputado que representa os portugueses, e que por isso fala em nosso nome, solicitou, pediu, e exigiu que o Padrão dos Descobrimentos fosse destruído, arrasado, e que dele não restasse pedra sobre pedra, nem fotografia da sua existência. Todos aqueles piratas, que lá estão no Padrão, a começar pelo Infante D. Henrique, e logo a seguir Vasco da Gama, deveriam ser mandados ao Tejo, ou reduzidos a pó, miudinho, numa pedreira esquecida. O senhor deputado, não interessa de que partido, acha uma total, completa e absoluta vergonha tudo o que Portugal fez desde 1500, a começar, claro, pelos Descobrimentos. E sobre o Império nem se fala. Um horror, do qual nunca teremos redenção. Disse mais: tudo isso, e mais que se lembrem, foi inventado por Salazar. É muito triste saber isso, agora. Vejam só para o que lhe deu. A Salazar.
Nós, os portugueses, temos de ajudar nesta razia. Faz algum sentido estar de pé o Mosteiro dos Jerónimos, e ainda por cima com o túmulo de Luis de Camões – esse louvador das descobertas? É mandar abaixo, e de passagem não se esqueçam da Torre de Belém. E do Restelo alguém se lembrou? Zona perigosa, habitada por nefastos velhos, sempre a agoirar. Juntam-se à noitinha num clube: «Os Velhos do Restelo». E que dizer da Praça do Império? Um atentado. Passará a ser um descampado para caravanas, couratos e bifanas.
Pensando melhor, e analisando tudo isto em perspetiva, é preciso começar pelo senhor D. Afonso Henriques, um malandro, um traidor sem uma réstia de dignidade, que criou uma raça desavergonhada, que deu à luz colonialistas, como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Pedro Álvares Cabral. Que raça indigna. Maldita. Imperialista. Tudo isto é um peso para nós. Não podemos mais. Não aguentamos. Não aceitamos.
O deputado Ascenso, ele próprio, está numa angustiosa dúvida: faz sentido ser deputado de uma Nação destas? É aflitivo. Uma História assim, com 900 anos, é um fardo, um embaraço, uma maçada. Uma carga de trabalhos, mal feitos. E sem sangue, no 25 de Abril, muito pior. A História de Portugal é um livro de cordel, de muitas facas e um alguidar, que canta balelas de corsários, de bandidos sem perdão e de colonizadores bastardos. Temos de voltar ao princípio. E sem o tal de Afonso Henriques.