Mafalda Anjos, diretora da VISÃO, em editorial, aqui ao lado, descreve muito bem os nossos “stresses” coletivos por causa da Covid, e as dificuldades que temos em lidar com essa ansiedade e depressão. É um tema muito interessante, porque acho, só de achar, que a pior crise desse síndrome vai revelar-se em alguns membros do Governo. Se eles acham que já lidaram com tudo, vão ter uma surpresa inquietante, quando chegar a altura.
“Stress” incontrolável, angústia, aflição, ansiedade, preocupação e desespero é o que o Governo vai sentir, em particular o primeiro-ministro (PM) e a ministra da Saúde, quando tiveram de começar a abrir o País. A desconfinar. A largar as pessoas da mão. Aí sim, só com pastilhas.
Tanto mais interessante quanto este PM sempre resistiu aos dois confinamentos, e a este só empurrado e encostado à parede pelos números, e agora vai estar, se já não está, com “aquela angústia que não nos larga”, como escreveu a Mafalda Anjos. Sim, uma comichão que não passa, um formigueiro sem cessar. É a “Síndrome da Abertura Falhada”. É o sentimento de que desta vez não se pode errar, fracassar, resultar mal.
O que custa não é fechar, o que pesa é abrir. Gera pânico, inquietação profunda, e nos casos mais graves incapacidade de decidir. E o Governo sabe, como ninguém, que não há espaço, nem disposição, e muito menos compreensão pública, se o desconfinamento for mal feito, apressado, e sem limites. E se voltar tudo ao que era. É fácil de dizer, ou de escrever, ou até de se fazer um plano fabuloso, mas o teste da realidade pode destruir a melhor estratégia.
Os papéis inverteram-se. O que é irónico, e muito inquietante. O confinamento está a funcionar, e transmite tranquilidade. O oposto, que todos conhecemos, pode ser outra vez mortal, catastrófico, impossível de lidar. O que vai acontecer com o novo desconfinamento? Ninguém arrisca, mas lá virá, de novo, o nervosismo, o esgotamento, o desânimo e a tristeza. Isso é garantido. A única questão é saber se conseguimos lidar coletivamente com isso. Outra vez. Uma 4ª vaga pandémica e um novo confinamento dá cabo de qualquer pessoa, de qualquer país.
Como é que o Governo vai enfrentar a “Síndrome da Abertura Falhada”? Com pavor, no mínimo. Com suores frios. Com ataques de pânico. Eles, o Governo, e nós todos, os governados.