As notícias até são muito boas. Mas demasiado. O número de contagiados, num curto espaço de tempo, 15 dias, ou pouco mais, teve uma redução absolutamente brutal nas estatísticas diárias. Dez vezes menos, num espaço de tempo muito curto. A tal ponto que baralhou, totalmente, todos os modelos previsionais dos cientistas. Fevereiro, que era anunciado como mês mais dramático, é o oposto. Três, quatro, cinco dias seguidos abaixo dos 2000 contagiados.
Qual é o milagre? O confinamento geral explica uma redução importante, mas nunca uma queda vertical. Isso não é possível. Bastaria comparar com os números diários de outros países europeus, também confinados, há mais tempo do que nós, e onde não se verificou uma subtração desta dimensão. É bom não esquecer: a 28 Janeiro tivemos 16.432 contagiados, e a 16 de Fevereiro só 1.502. Isto é obra!
Não sendo só do confinamento geral, também não é da vacina. 500 mil vacinados em Portugal, mas apenas 200 mil com as duas doses, não impacta no nosso milagre. Tão grande é o feito que, teoricamente, e ridiculamente, se continuássemos assim, nesta queda vertiginosa, seríamos o primeiro país «Covid-free». É possível? Nem de longe.
A verdadeira explicação, olhando para os dados sobre a testagem em Portugal, é a descida vertiginosa no número de testes diários, de 27 de Janeiro para os primeiros 15 dias de Fevereiro. Só assim é que se decifra o inexplicável. A 28 Janeiro faziam-se 6.3 testes por mil pessoas, e a 11 de Fevereiro (os últimos dados conhecidos) estamos nos 3.28. Por comparação, a Grã-Bretanha faz por dia 9.65 testes por mil. Claro que fazendo agora apenas metade (em média) dos testes realizados em Janeiro, é lógico que os contagiados vão desaparecendo. Desaparecer não desaparecem, mas não são detetados, não pressionam os números, não vão para os hospitais, não entram nas UCI. Isso leva a uma outra pergunta: a maioria das mortes acontece em casa, e não nos hospitais. Como é que se explica isto, sendo que a Covid não é propriamente uma doença fulminante?
Alguém que diga o que se passa, para não entrarmos em mais uma euforia irresponsável. Estes números diários não estão a dar o quadro real da pandemia em Portugal. Não é possível. De todo.