O pior que se pode dizer ao Governo, porque está errado, é que o pico da 3ª vaga da pandemia já está ultrapassado. Temos dois dias de contágios um pouco acima dos 5 mil por dia, e já há balões no ar, afirmações perentórias, modelos quase infalíveis, de que estamos garantidamente a baixar a curva (como se cinco mil casos por dia fosse um bom número). O que tem de se dizer ao Governo, porque é a verdade, é que o confinamento geral estará a dar resultados. Estará! É isso, e só isso. Mas ainda estamos muito longe de perceber se este efeito se prolonga, nos próximos dias, na próxima semana, e nas seguintes.
Se o confinamento está, de facto, a resultar, como se previa, sendo que por agora é a única medida cientificamente eficaz, então como é que saímos disto, sem o país entrar numa nova vaga, com mais variantes disseminadas, mais letais e perigosas. O ponto é este. O confinamento geral, com escolas fechadas, tem resultados – pelo menos pode ter cortado os contágios – mas qualquer tipo de desconfinamento, que este Governo adora, será um novo desastre nacional.
A única hipótese é a vacina. Mas não com estes números tão desapontantes. Israel, quase com 60 por cento da população vacinada (9 milhões) já está tecnicamente em imunidade de grupo, é nós ainda vamos nos 3,3 semi-vacinados por cem pessoas. A verdade é que só 0,7 por cento é que está verdadeiramente vacinada. Repetir o erro de um desconfinamento apressado tem consequências dramáticas e devastadoras, e nunca nos podemos esquecer que o Governo gosta de se precipitar, relaxar, aliviar e abrir.
Os que aconselham o Governo, em particular a ministra da Saúde, só podem dizer uma coisa, e com toda a transparência: ainda bem que estamos confinados. É para se manter. E precisamos de fazer uma vacinação maciça, no mais curto espaço de tempo. É só isto. Nada mais. Tudo o resto é brincar com a vida das pessoas.
Temos de ter mais vacinas. Não podemos ficar reféns da compra conjunta de Bruxelas. Para além desse sistema, cada Estado deveria ter a capacidade de fazer as suas próprias encomendas e compras, fora do mecanismo europeu. A que título é que deixámos essa parte vital da nossa soberania nas mãos de terceiros? E, infelizmente, também não está a correr bem com os nossos parceiros europeus. O que se deve fazer é simples: manter o mecanismo europeu, e ir recebendo às pinguinhas, mas permitir que os Estados possam fazer compras diretas. Aliás, as vacinas vão passar a ser usadas todos os anos, e por isso será um gasto recorrente. Assim, como está, já se percebeu que nem no final do ano atingiremos a imunidade de grupo. Nem de longe. Era bom que o nosso PM, na sua qualidade de Presidente do Conselho da União, levantasse esse tema na próxima reunião. Somos uma União, mas antes de tudo Estados independentes, com cidadãos a morrer aos milhares. O confinamento está a resultar, a vacina é que não.