Eleito o Presidente, todos os outros resultados, ou ranking eleitoral, ou força dos votos e percentagens, desapareceram, esgotaram-se, e esfumaram-se na noite eleitoral. Sendo uma eleição nacional, para escolher uma só pessoa – que foi escolhida e inequivocamente – tudo o resto é história, que será relembrada, apenas, quando daqui a cinco anos se compararem os resultados deste ou daquele.
É pura ficção pensar-se que um não eleito pode continuar a contar, em qualquer eleição, seja para o que for, com a base conquistada nas presidenciais. É pura ilusão. Não funciona assim, e que o diga a candidata do Bloco. A mesma de há cinco anos, bateu-se com a mesma força, e com o mesmo empenho, mas os eleitores decresceram, e neste caso muito.
A única maioria presidencial que interessa é a da escolha, com um resultado esmagador, do Presidente eleito, que neste caso é reeleito. Mas também ela se esgota na noite eleitoral. Teve o resultado que a maioria queria, mas esse eleitorado não é estático, não adormece nos próximos cinco anos, e não se esquece de responsabilizar quem ganhou. Isso mesmo disse Marcelo no seu discurso de vitória, garantindo saber o que os portugueses não querem, e o que desejam que seja cumprido.
Foi um discurso notável. Por todas as razões, e em particular porque se focou na maior catástrofe que vivemos. O Presidente percebe e aceita a responsabilidade que tem, e a confiança que lhe foi dada para se bater, sempre, por ações rápidas, e com todos os recursos, para se controlar a pandemia. Nem mais, é a pandemia que nos mata, deprime, preocupa e desgasta. Marcelo está no topo da pirâmide institucional, e a ele cabe-lhe um papel fundamental nesse combate.
E a primeira medida, já agora, se é possível dizer uma, é pedir ao Governo, ou então no âmbito da própria Presidência da República, que seja criado um grupo de especialistas e cientistas, com um responsável direto – tipo o cientista-chefe da Grã-Bretanha – que coordena e sintetiza todas as informações, estudos, projeções e modelos do grupo, e que transmita em permanência ao PR, AR e Governo. O modelo do Infarmed não funciona. Cada uma fala da sua “quinta”, apresenta as suas ideias e estudos, e no final ninguém fica habilitado, ou seguro, para tomar esta ou aquela decisão. É urgente, vital, que seja criado este grupo especial de combate. E que não se misture com a «task-force» da vacinação, nem com as reuniões quinzenais de Infarmed, nem com os grupos de estudos, avaliações e decisões da DGS.
É um comando especial, único, apenas para a guerra contra a pandemia. E com uma cara. E com a capacidade de dizer, e explicar, e defender e exigir que se tomem estas ou aquelas medidas. E com indiscutível capacidade profissional. E com disponibilidade total, 24 horas por dia. Devia ser a primeira tarefa, e a mais urgente, do Presidente eleito.