No início de setembro de 2020 – parece meio século – o primeiro ministro foi perentório ao afirmar que o país não poderia fechar, uma segunda vez, por causa do Covid. Lembro-me, na altura, de escrever que era extraordinariamente arriscado fazer essa promessa. Por uma razão muito simples: se o país tivesse que fechar, fechava mesmo. Com ou sem decisão do Governo, ou decreto de emergência do Presidente. Em Março, muito antes do encerramento ao abrigo do estado de emergência, as pessoas, as empresas, o Estado nacional, regional e autárquico tomaram todas as medidas de auto confinamento para evitar a propagação do vírus. Na altura, o Governo, que não queria o decreto presidencial, teve de ir a reboque da realidade. Por outras palavras, fechar o país não estava, nem está, nas mãos do Governo.
E isso confirmou-se, agora, outra vez, com a escolas. Todos os dias, e cada vez mais, os pais e encarregados de educação começaram a não levar as crianças e jovens às escolas, e muitos universitários já não apareciam. Se o PM continuasse na sua teimosia, a achar que ainda precisava de mais conselhos técnicos para fechar, muito forçado e a contragosto, o que aconteceria era que os portugueses, gravemente preocupados com a loucura incontrolável da pandemia, decidiriam eles próprios fechar, de facto, todas as instituições de ensino. Os alunos deixariam de aparecer.
A conclusão de setembro de 2020 aplica-se, literalmente, à situação de Janeiro de 2021: esta pandemia, para além de nos ensinar muitas coisas, das mais vulgares às mais surpreendentes, colocou o poder de decisão, de proteção, de emergência nas mãos e no bom senso das pessoas. Faça o Governo, ou as autoridades sanitárias, o que fizer, é aos portugueses que cabe decidir. Cheiram o perigo, e agem em defesa própria e dos seus. São os portugueses, com a sua cabecinha, que decidem fechar, ou não, o país. O PM que não se aflija. Está tudo, o bom e o mau, nas mãos de cada um de nós. Ainda bem. Já era tempo.