Todos concordam que o problema mais grave desta catástrofe é a falta de médicos, de enfermeiros e de técnicos de saúde no SNS. Já todos ultrapassaram os limites, já não aguentam mais, e já não existem recursos. O “burnout das equipas médicas e de enfermagem, e de todos os outros profissionais, é tão grave, e preocupante, como a pandemia sem controlo. Instalações, camas e recursos desse tipo são fáceis de arranjar – um hotel inteiro pode ser uma boa enfermaria – mas para isso precisam das equipas de saúde. No debate parlamentar, e muito bem, o primeiro-ministro (PM) disse que não iria requisitar os profissionais de saúde dos privados. Esses hospitais estão a receber doentes do público, estão igualmente no limite com a Covid, e uma requisição seria inútil e dramática. O princípio, no entanto, colocado pelo Bloco de Esquerda, toca no ponto essencial: o que o Governo tem de fazer, e já, é requisitar, convocar e chamar todos os outros médicos e enfermeiros que existem no país, e que não estão no SNS, nem nos hospitais privados.
O que a ministra da Saúde deve fazer, com o apoio da Ordem – que tem sido exemplar nos alertas e avisos aos portugueses e Governo – é requisitar todos os médicos de especialidades que não estão na primeira linha, ou que são reformados, ou que trabalham apenas nos seus consultórios e clínicas privadas, e que podem ajudar a completar as equipas que estão a implodir.
São muitas centenas, ou milhares, que são absolutamente necessários, e em alguns casos decisivos. Basta apenas trabalhar com a Ordem, para se fazer uma listagem dessas especialidades, que nesta fase estão quase paradas, e o mesmo, rigorosamente, com os enfermeiros e técnicos. Ninguém percebe por que razão ainda não foram requisitados. Um médico especialista, antes de o ser, foi médico de clínica geral, obrigatoriamente, com internato nos hospitais e centros de saúde, durante anos, e com milhares de horas em bancos de urgência. E o mesmo se passa com os enfermeiros.
E se tudo isso não chegar, então ponham os estudantes de Medicina e Enfermagem dos últimos anos a apoiar as equipas, ou a substituir quem está nos atendimentos da Linha SNS 24. Tutelados e acompanhados, com uma formação mínima, estão em condições de reforçar equipas, ajudar nas rotações de descanso, e desempenhar, com critério e conhecimento, o que for necessário.
Tomando estas medidas, o mais depressa possível, o SNS poderia sair da catástrofe, os médicos deixariam de fazer opções impensáveis, e os portugueses ganhariam tempo para conseguirem ser vacinados. Ou o Governo aceita que está numa emergência total, e toma todas as medidas extraordinárias que pode, ou então tem de reconhecer que não é capaz, que não sabe o que fazer, e deve dizer isso ao Presidente da República e aos portugueses. O PS e este Governo, mas também os outros partidos na Assembleia da República, serão severamente avaliados pelo seu comportamento nesta pandemia. Não se iludam.