Nancy Pelosi, speaker da Câmara dos Representantes, e terceira figura na hierarquia constitucional americana, ferrou, e bem, os calcanhares de Trump e não o vai largar até o colocar numa situação de impossibilidade legal de voltar a ser presidente. Exige que Mike Pence invoque a 25ª adenda da Constituição para remover, de imediato, o ainda presidente, o que não parece que vá acontecer, ou então desencadeia o processo formal de destituição, mesmo a 11 dias do fim do mandato. Trump estava a pedi-las, e na quarta feira passou todos os limites. Agora há um ultimato.
Para meter medo, e fundamentar a decisão de destituição imediata, Pelosi usou o argumento nuclear: um presidente instável não pode aceder, ou ter à sua disposição, os códigos de lançamento das armas nucleares. Seria uma preocupação legítima se os procedimentos fossem simples e diretos. A Speaker já falou com o Chefe do Estado Maior dos EUA, que não tem nenhum poder nessa matéria, que não seja aconselhar, e eventualmente já estará mais sossegada, embora mantendo a pressão pública.
Como não se brinca com armas nucleares, convinha esclarecer o que Presidente dos EUA não tem propriamente à sua disposição, ou ao seu alcance, um botão, ou vários, que desencadeie o lançamento de qualquer arma nuclear. O Presidente é o ponto final de uma cadeia que teria de estar toda maluca, e coordenada, para isso acontecer. Para simplificar: começa nos generais dos comandos combatentes, vai ao secretário da Defesa para validar e, finalmente, o Presidente confirma com os seus códigos, na «mala» que o acompanha sempre, mas transportada por um oficial superior.
Por outras palavras: por muito maluco que fosse, Trump nunca conseguiria fazer nada. De todo. Essa preocupação, aliás, esteve sempre presente em James Mattis, o tal «cão danado» e ex-secretário da Defesa, general de quatro estrelas retirado, e que é citado diversas vezes no livro de Bob Woodward, «Raiva», em troca de palavras com Mike Pompeo, e outros, em que afirma que se uma ordem desse tipo lhe chegasse jamais a validaria. Tal como o sistema político americano, o poder sobre o arsenal nuclear também tem equilíbrios e garantias suficientes. O mesmo não acontece, diga-se, com outras potências nucleares, o que é, verdadeiramente, um perigo constante e permanente.
Mas Pelosi quer inspirar insegurança, não só nos EUA, para destituir um Presidente instável, como diz, e com razão, compulsivo e capaz das piores asneiras. Faltam 11 dias e meio.