Quem viu a conferência de imprensa do primeiro-ministro (PM), no tom que foi e com os argumentos que usou, logo de início, só poderia concluir, legitimamente, que iria puxar o travão de mão no Natal, tal como tinha avisado. Nada disso. Abrandou, deu conselhos, pediu responsabilidade, mas fixou-se na decisão de uma restrição total no Ano novo, para “compensar” a abertura do Natal. António Costa, daqui a uns tempos, vai imitar o Rei da Suécia: «”falhámos.”
O número de contágios não está a reduzir como pensávamos, as mortes continuam muito elevadas, disse o PM, e por isso vamos manter a abertura do Natal! Não há nisto qualquer coisa de irreal? De pernas para o ar? O que é mais espantoso é que o PM sabe que vamos pagar caro, e por isso disse que ia cortar tudo no Ano Novo. É um reconhecimento público e aberto do erro, mas tentando compensar com as restrições seguintes. É uma contradição total. Uma meia medida. É verdade que apontou várias regras para os festejos de Natal, que não podem ser em espaços fechados, mas a partir daí já ninguém ficou a perceber nada. Também eram apenas conselhos, que espera que sejam seguidos. Ficou a dúvida se a ceia de Natal, ou o almoço, tem de ser feito no jardim, ou no terraço, ou à porta de casa, para evitar o espaço fechado.
António Costa, há quinze dias, disse o que eventualmente não deveria: abertura no Natal, e logo a começar a 23, sem restrições de concelhos, e com isso criou uma expetativa que agora era difícil de inverter. Percebe-se. Mas é uma péssima ideia. A sorte do primeiro-ministro é que a maioria das famílias já decidiu, e bem, restringir a celebrações natalícias ao seu núcleo mais pequeno.
Não vale a pena repetir os argumentos contra esta decisão. Todos percebemos a realidade, e janeiro, como diz a OMS, pode ser o mês da terceira vaga, por causa destas loucuras. A isso soma-se outro equívoco que é importante desfazer: as vacinas vão chegar muito lentamente para as necessidades do País, e isso significa que todos os cenários cor de rosa de alguns responsáveis, e até de especialistas, estão muito longe de ser uma realidade. Bem pode a task force jurar que vai vacinar 50 mil pessoas por dia, mas conviria acrescentar: “se tivermos vacinas”. É só um detalhe.
Assim sendo, e para espremer, janeiro ainda está longe, que venha o Natal, depois logo se vê. Temos um 2021 inteirinho para ir resolvendo a pandemia. Devagarinho para não a incomodar.