Há, neste Governo, dois ministros que não se falam. Só pode ser. Tem toda a probabilidade. O ministro de Estado e da Economia não vai à bola com o ministro das Infraestruturas. Quando um está em Conselho de Ministros, o outro não aparece. A luta tem meses, poucos, e a desavença é impossível de sanar. Uma chatice para o primeiro-ministro (PM). Das grandes e inesperadas. Tipo Covid ministerial. É tema central, seguramente, das reuniões semanais do Presidente da República (PR) com o PM. O Presidente está no limite da paciência. E tem muita.
A TAP é o tema da discórdia. Não pode falir, garantem os dois. Separadamente. Mas é tudo. Nenhum aceita recuar, e cada um faz o oposto do outro. Isto já não é uma diferença de opinião, uma nuvem passageira, uma pequena desavença. É uma luta feroz, entre a “capoeira” e o “vale tudo”, que pode acabar com os dois na pequena cirurgia, em salas separadas, num banco de urgência, para serem suturados.
A ferocidade entre os dois é fácil de explicar, mas impossível de resolver. O ministro de Estado, mais importante, anunciou, em Março, com a pandemia, que o Estado iria ajudar, e está a ajudar, as empresas, em particular as mais afetadas, mas com a condição de manterem os postos de trabalho. Justo. Faz sentido. Mais desemprego não é suportável. Se é o Estado a pôr o dinheiro – salvo seja, a garantir – isso não pode servir para despedir, reestruturar, cortar postos de trabalho. É uma medida tipicamente socialista, mas equilibrada. As pessoas e as famílias primeiro.
Dito isto, e assumido pelo ministro de Estado, vem o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, inferior na hierarquia, mas mais poderoso, e deita abaixo a decisão. A TAP é dele, apanhou com o Covid em cheio, mais do que qualquer outra empresa, e o Governo tem de meter quase 4 mil milhões de euros, nos próximos anos. É a única forma de a salvar. É uma companhia estratégica. É um dever nacional. E está abrangida no setor de ajudas prioritárias do Estado. Tudo adequado. Nem se discute. Só há um pecado mortal: a primeira coisa a fazer, com o dinheiro do Estado, é despedir pessoas, empurrar para a reforma, acabar com os contratos a termo. São milhares que vão à vida. É tudo o que todas as outras empresas não podem fazer. Estamos percebidos e compreendidos?
A zanga é inultrapassável, à primeira vista. Os Governos podem dizer uma coisa, e fazer outra, mas isso faz-se baixinho, em surdina, e sem grandes alaridos. Não é o caso. Siza determina, e Pedro Nuno Santos elimina. Era só o que nos faltava. A nós, todos, e ao PM. Que ainda ouviu um raspanete por não deixar ir o assunto à AR. Que ano. Que pandemia. Que loucura. Vacinem-nos, urgentemente. Pode ser que acalmem. Ou então tudo isto é uma ilusão. Ficção política.