Foi absolutamente extraordinária a rapidez com que a entidade reguladora de medicamentos (MHRA) britânica aprovou a vacina da Pfizer, que começará a ser usada já na próxima semana. É um caso exemplar. A FDA também vai aprovar para a semana, e isto serve para rebater os argumentos de que a Grã-Bretanha foi precipitada. O Governo de Boris empenhou-se a sério, ordenou a compra em tempo útil, pediu ao regulador para ser rápido na sua aprovação para uso de emergência, sem passar por cima de nenhum protocolo de segurança, e no início da próxima semana vai ter já à sua disposição, de acordo com o laboratório, 800 mil doses da vacina. Até ao final do ano, daqui a 28 dias, milhões de doses chegarão à Grã-Bretanha, que só desta vacina comprou 40 milhões.
E as prioridades de Londres são simples e claras, e não colocam travões na idade a partir da qual não se aplica. A Pfizer, aliás, já explicou, e a entidade inglesa de medicamentos confirmou, a eficácia da vacina nos mais idosos. E a listagem é inequívoca: primeiro todos os utentes de lares, de todas as idades, e funcionários e cuidadores, depois as pessoas com 80 anos e mais e as equipas hospitalares e outras que estejam na linha da frente do combate à Covid, em terceiro os de 75 anos até aos 80, em quarto lugar os de 70 anos até aos 75 e todas as pessoas com pré condições de grande vulnerabilidade, em quinto estão os de 65 até aos 75, e como sexta prioridade todas as pessoas dos 16 aos 64 anos com comorbilidades que corram sério risco de vida , e finalmente mais três grupos que vai dos 60 aos 50 anos de idade. É complicado?
Tudo isto vai começar a acontecer dentro de dias, e está previsto que até 31 de dezembro de 2020, milhões de britânicos já estejam vacinados. Como foi possível ser tão rápido? Os cientistas e técnicos que aprovaram o uso são uns nabos? Não percebem nada do assunto? Foram “comprados”?
A Grã-Bretanha apenas usou os seus poderes soberanos. Já não está na União, não precisa dos formalismos e da lentidão da EMA, não está sujeita à distribuição das vacinas coordenada por Bruxelas, e tinha o dinheiro necessário para fazer as encomendas. O Governo de Boris não se perdeu na floresta. Sabia o que queria, sabia que tinha de ser rápido, e sabia que a normalidade só voltaria com a imunização das pessoas, num tempo recorde.
Nós, pelo contrário, temos de esperar pela EMA, depois pelo Infarmed, a seguir pela lista de entregas de Bruxelas, onde todos querem ser os primeiros, e por isso vão receber um poucochinho desta, mais um bocadinho daquela, e assim por diante. Deve ter sido por isso que o Presidente da República já alertou para os meses que vamos demorar a ter todas as pessoas vacinadas. Não faz nenhum sentido. Nem é admissível. Milhões de britânicos já estarão vacinados e imunizados, enquanto nós, por aqui, ainda estaremos na fase de ver, lá para janeiro, quando chegarão as primeiras doses.
A Covid-19 ensinou-nos mais uma coisa: em áreas fundamentais da soberania, e a saúde-vida é a mais soberana de todas, temos de ter nas nossas mãos o poder de decidir, de imediato, pela nossa cabecinha. Esse poder não pode estar delegado. E muito menos em vários grupos de burocratas que ninguém conhece, nem elegeu. Foi o que fez Londres.