As vacinas ainda não chegaram, e só estamos a falar de duas, a da Pfizer e a da Moderna, e a confusão já está instalada em Portugal, ao ponto do Presidente e do primeiro ministro terem de cortar as ideias tontas de quem é prioritário ou não. Há uma comissão, que tem de andar muito depressa, que fará uma recomendação ao Governo, e depois disso haverá uma decisão, que passará obrigatoriamente pelo PR.
A confusão começou onde não seria de esperar: na DGS. A proposta, atribuída a especialistas da direção geral, diz que a vacinação prioritária, a primeira da escala, será nas pessoas entre os 50 e os 75 anos de idade com comorbilidades, os utentes dos lares e os funcionários e, naturalmente, os profissionais de Saúde que lidam diretamente com a Covid. Só para lembrar, assim à primeira vista, esqueceram-se dos grupos de risco de todas as idades.
O PR olhou para isto e chamou-lhe «ideia tonta», e o PM irritou-se dizendo que as «pessoas não têm prazo de validade». Ótimo cortarem o mal pela raiz. Não deixarem que se espalhe a ideia de uma seleção que parece técnica, mas não é coisa nenhuma.
Porquê só até aos 75 anos? Quem tem 76 ou 96 já não conta? Porquê só com comorbilidades? Os que não têm também estão fora do baralho, apesar da idade? Não é mais do que lógico proteger os idosos que não têm problemas? Pior ainda: não é a própria idade uma comorbilidade? Não se aprende no primeiro dia de uma Faculdade que o adjetivo «saudável» não existe em medicina? Juízo e bom senso.
É ridículo perder tempo na discussão metafísica das prioridades da vacinação. A Covid19, sozinha, já as estabeleceu. Todos as conhecemos. Basta elencar. A partir dos 60 todos devem ser vacinados, com ou sem pré-condições, e aqui estão já incluídos os utentes dos lares, claro, os seus funcionários e os profissionais de saúde todos, de cima a baixo. Depois ainda é ainda mais fácil enumerar: a lista vai das forças policiais e militares, aos titulares de órgãos de soberania. E convém voltar aos grupos de risco: todos, de todas as idades, e na primeira vaga.
Vamos ver se nos entendemos: somos só 10 milhões, menos do que a cidade de Londres, e dá a ideia de que estão a conceber um plano para fazer face a uma catástrofe nuclear. Nos grandes países, com centenas de milhões, o calendário de vacinação prevê, no mínimo, um milhão de vacinados por dia, e numa fase inicial. Em andamento normal serão muitos mais por dia. Qual é a nossa dificuldade? Organizem-se, venham as vacinas, e sejam claros e transparentes nas prioridades. As pessoas estão ansiosas, fartas deste vírus, da anormalidade das suas vidas, e isso é um rastilho para a confusão. Era só o que faltava à Covid19.