A denegação de Trump dos resultados eleitorais está a chegar ao fim, com a certificação dos estados em que contesta os resultados, e com os juízes a recusarem as queixas contra uma conspiração democrata, que envolveria milhares de pessoas – sem ninguém a denunciar – e uma intrusão maliciosa no “Dominion”, o sistema eletrónico de contagem dos votos. Foi uma tentativa bizarra de suspender o processo de transição, que tem os dias contados.
Trump vive numa realidade paralela, já não na esperança de inverter qualquer coisa – o turbilhão que isso geraria – mas fixado no que quer fazer nos próximos quatro anos, e nos problemas que vai ter a partir do momento em que Biden tomar posse. Há inúmeros processos que aguardam o fim da sua imunidade, particularmente em Nova Iorque, e a alteração da sua residência para a Flórida tem tudo a ver com isso. Obviamente que também o clima político não ajudaria nada numa cidade e num estado profundamente democrata.
Está a chegar o momento, talvez ainda esta semana, depois da certificação do Michigan e da Pensilvânia, em que o jogo acabou. O que vai fazer? Conceder no Twiter? Repetir que Biden foi eleito fraudulentamente? Garantir que foi deposto por um golpe de Estado do “Dominion”? Ninguém adivinha, ninguém deve ter uma resposta, incluindo o próprio que reage por impulso.
Uma data é certa: a 14 de dezembro o Colégio eleitoral elege o novo presidente, e a partir daí o que Trump poderá fazer é muito pouco, e coordenado com a equipa de transição. E depois é a contagem decrescente até 20 de Janeiro, nas escadarias do Capitólio, onde se espera que esteja presente. Nunca se sabe. Estar no Capitólio é reconhecer o novo presidente. E Trump quer, antes de mais, que a sua narrativa se mantenha pelos próximos anos.
Até lá é gozar a mansão de 132 divisões, os 6 mordomos, os chefes, os dois camareiros que tratam de tudo o que lhe diz respeito, o “Air Force One”, que é uma Casa Branca pequenina, com quase 400 metros quadrados, incluindo um hospital, as caravanas dos serviços secretos, e a fabulosa “besta” em que se desloca. Bela vida para um quase ex-presidente.
O ainda presidente quer voltar, em 2024, mas quatro anos na política americana, outra vez com eleições, para o Congresso, em 2022, é um tiro longo, muito longo, incluindo para os republicanos, que por agora não querem perder a maioria no Senado. Aliás, essa maioria é também decisiva para Trump, se não quer ter um Congresso democrata vingativo e ansioso para o humilhar .
Na cabeça de Trump estava tudo montado para uma presidência de oito anos, mas seguidos. Agora está no plano X, sendo que o que gostaria mesmo, se possível, era transformar os EUA numa monarquia absolutista. Acabavam-se as eleições, e garantia-se a sucessão.