O presidente eleito já está entalado, e ainda nem começou, que é mais ou menos o que está a acontecer no The New York Times: a esquerda dura, e extremista, do partido democrata, quer ter um papel importante, decisivo se possível, na nova administração. No jornal, a nova vaga, que já tinha tomado o controlo editorial do jornal, quer agora afastar toda a “velha guarda” deste símbolo do jornalismo americano. Já não bastava uma jornalista da MSNBC, em pleno exercício das suas funções, ser a speechwriter secreta de Biden. Estamos entendidos.
O toque de chamada da ala esquerdista – comparável em Portugal ao Bloco – foi logo dado por Bernie Sanders, ainda estava a contagem em aberto. Biden não se pode esquecer que ganhou com a a nossa ajuda e empenho, sublinhou o símbolo desse movimento. Agora sim, entende-se a ajuda que eles deram, a começar pelo NYT.
Alexandria Ocasio-Cortez (AOC), a estrela desse movimento, e de mais alguns, como o “Defund the Police” – que é o mesmo que dizer acabem com a Polícia! – veio logo a seguir clarificar que a senhora Pelosi não podia ser a speaker, porque o partido democrata já não é o mesmo. Para AOC, foi a moderação de muitos democratas que resultou na perda assinalável de lugares democratas na Câmara dos Representantes. Não está nada fácil para Biden, e para o seu tom conciliador. O discurso da nova esquerda, que juntou mais alguns eleitos no Congresso, é o de Trump virado ao contrário: nada de compromissos, nada de vacilações, nada de entendimentos. É preciso castigar todos os que apoiaram ou trabalharam com Trump.
Biden ganhou por ser moderado, e apelou à união, mas isso já lá vai. Os Estados Unidos vão fazer uma guinada à esquerda mais radical, e já são muitos os que exigem estar nos sítios certos. Por agora são só hipóteses, mas há fontes democratas que colocam Elizabeth Warren na pasta do Tesouro. Seria, verdadeiramente, a loucura. Insanidade total.
É espantoso como a simetria política radical se alterna. Se Trump guinou para a direita, Biden está a ser fortemente empurrado para o lado oposto. Estes novos democratas são abertamente contra o centro, e os equilíbrios políticos. Têm, contudo, um grande obstáculo, uma parede, uma fronteira, que não é Biden nem Kamala. É o Partido Republicano. Grande irritação.
Bem pode Biden escolher Warren, ou até Sanders, ou todos os outros esquerdistas, para a sua Administrção, ou outros postos críticos, mas cada uma dessas nomeações tem de ser aprovada pelo Senado. E se os republicanos disserem não, não aceitamos, volta para trás. É a velha história do grande poder do presidente dos EUA, que na verdade não é nenhum. Nem o Governo pode escolher, de livre vontade. Multipliquem, agora, por FBI, CIA, DIA, NSA e mais 500 lugares-chave, e quem tem a última palavra é a maioria republicana. Mais chatices para Biden. Não é fácil ser presidente. E muito menos com esta radicalização, que começou à direita e foi acabar, como sempre, na esquerda.
Assim, sem mais, há um processo revolucionário em curso nos Estados Unidos. Igual ao do New York Times. É uma luta sem tréguas, entre os moderados institucionalistas e os revolucionários da insurreição. Ainda Biden não chegou à Casa Branca.