Quando os eleitores americanos votarem, para além dos quase 100 milhões que já anteciparam, a única coisa que estão a fazer não é a escolher Biden – com os seus óculos à Top Gun – mas a dizer se querem Trump na Casa Branca, por mais quatro anos. De uma coisa temos todos a certeza: Biden vai ganhar. Vai ter mais votos. Vai ser o primeiro na votação nacional. Mas isso não chega para ser presidente dos EUA. A questão que ainda hoje se coloca, até à última hora, até ao último segundo, é saber quem vai ter os 270 votos do Colégio Eleitoral. Não interessa se o sistema eleitoral é mau ou bom, ou confuso, mas é o que existe. E é nessa angústia que os democratas estão até à contagem final, e é também com alguma esperança que os republicanos encaram o escrutínio.
Trump não quer saber se a maioria dos americanos está com ele. Neste jogo, isso não conta, e por isso também a sua taxa de popularidade nunca foi positiva. Ou muito raramente. Trump quer, apenas, porque é decisivo, um voto a mais do que Biden em estados cruciais. Uma maioria simples. Milhões de californianos vão votar contra ele, nenhuma dúvida, e os 55 grandes eleitores já estão na coluna de Biden, mas Trump investe tudo nos estados centrais americanos, de norte a sul, que lhe podem garantir a vitória presidencial.
Mas Trump tem ainda algumas vantagens, que, sendo apenas sinais históricos, não deixam de acalentar a expetativa republicana: nos últimos 88 anos, só três presidentes não conseguiram ser reeleitos (Ford, Carter e Bush), nunca nenhum presidente foi eleito sem ganhar o estado o Ohio, e as sondagens mais vistas e analisadas só refletem o voto nacional. Se fosse em Portugal, no nosso sistema eleitoral, Biden já estava em Belém. Por tudo isto, Trump entrou na loucura de fazer cinco comícios em cinco estados diferentes – surpreendente com a idade que tem, e depois da Covid – e só naqueles que decidem. Trump também se sente motivado, nos últimos dias, com a pesquisa recorde dos americanos no Google: “Como posso mudar o meu voto?”
Biden, pelo contrário, adora falar em cinemas ao ar livre, com óculos de sol, tipo 007, conseguiu muito mais dinheiro do que Trump, que vai ser rebentado até ao último minuto em anúncios de televisão, e mesmo assim, não muito descansado, está a ser empurrado por Obama, que se multiplicou em aparições. Mas o repetido aparecimento de Obama denuncia, bem entendido, que os democratas não estão seguros e tranquilos.
Seja como for, os americanos já decidiram no sim ou não a Trump. Os dados estão lançados. O jogo está fechado. Biden, e o resto do mundo, aguarda. Uma certeza temos todos: se Biden perder é o pior político deste século, e dos próximos. Ele que meta a viola no saco, e vá a pé para a Califórnia.