A preocupação do Presidente da República, do primeiro-ministro e do Governo, não esquecendo a maioria dos deputados, resulta dos números diários da pandemia, que estão fora de controlo, e das previsões conjuntas de várias instituições nacionais, que por si só traçam um quadro negro para a evolução dos contagiados, internados e mortes.
Espera-se, calcula-se, que o Governo também pondere, avalie, e compare com as previsões da evolução da pandemia em Portugal efetuadas pelo Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington, com quem a DGS tem um protocolo de colaboração há anos. A própria Direção Geral de Saúde considera que «o IHME é um centro mundial de investigação, que disponibiliza métricas independentes, rigorosas, e comparáveis dos problemas de saúde mais importantes do mundo. O principal objetivo do IHME é criar um mapa completo e atualizado para ajudar os decisores políticos e outros interessados».
Os números deste Instituto assustam, com projeções até 1 de Fevereiro, e dão indicações seguras das melhores datas, ou oportunidades, para se tomarem medidas duras. São projeções baseadas no comportamento da Covid-19, por comparação entre países e regiões, a que se associam as capacidades hospitalares de cada país, e as restrições ou obrigações já implementadas, como o uso de máscara.
Já para novembro, na semana de 17/18, o IHME projeta, mesmo com o uso de máscara, que Portugal ultrapassará as 3 mil mortes, sendo que o intervalo varia entre as 2.700 e as 3.200. Na mesma semana, os dados apontam para uma variação entre os 3.700 e os 5.900 contagiados por dia, mas com o uso obrigatório de máscara. Sem isso disparam.
Em dezembro, a situação piora substancialmente, prevendo-se que em cima do Natal, as mortes atingirão 5.100, com uma variação entre os 4 e os 6 mil. Por óbvias razões, os contágios diários poderão chegar aos 7.400. Nessa altura, e em função das nossas capacidades hospitalares, serão necessárias 1300 camas nas UCI, que não existem.
A 1 de fevereiro, o número de mortes estará nos 9 mil, e os picos de 2020 serão atingidos em meados de dezembro. Tudo isto, bem entendido, se Portugal não tomar medidas de confinamento parcial ou total, declarar o estado de emergência, e usar obrigatoriamente a máscara na rua.
São as estimativas do IHME da Universidade de Washington, que se notabilizou, nesta pandemia, por projetar dados que vieram a confirmar-se nos países que anunciam publicamente os seus números, e que partilham com o Instituto. O cenário é assustador, e as medidas do Governo e do PR certamente que se basearão, minuciosamente, nos modelos nacionais e nas métricas do IHME. Sem medidas não há país, nem pessoas, nem economia. Apenas medo.
O que incomoda, o que irrita, o que perturba é que todos sabiam disto, há muito tempo. O tempo suficiente para minimizar o choque dramático da Covid-19 em Portugal. Agora, como sempre, vamos começar do princípio, mas em piores condições.