Um dos indicadores mais importantes do controlo, ou descontrolo, da pandemia é o número de contagiados por cada 100 mil habitantes. À conta disso, e só hoje, já voltaram a confinar a Irlanda, Bélgica, País de Gales. E é por isso que a senhora Merkel, na tradição da racionalidade e eficácia alemã, reuniu com todos os responsáveis máximos de cada estado federal, para estabelecerem uma fronteira a partir da qual se devem tomar todas as medidas restritivas necessárias, mesmo que seja o confinamento. Tudo por regiões, cidades e por aí abaixo.
Para Merkel, e para todos os virologistas, cientistas e técnicos, essa fronteira tem um número muito claro: acima de 50 novos contágios por 100 mil habitantes, e por semana, aplicam-se restrições duras. Significa que o vírus está a ficar descontrolado. Berlim tem 80, e imediatamente foram tomadas medidas para tentar baixar esse número. 80 por cada 100 mil é mau. Para os alemães, claro.
Se fosse em Portugal, nenhum problema. Tudo como dantes, mesmo que o número fosse 80, 90, 100. É por isso que estamos, há uma semana, com 129 contagiados por cada 100 mil habitantes! É isso mesmo: 129, quando o aceitável é 50. Aceitável, mais ou menos, porque o ideal seria 0, ou próximo disso. Mas numa pandemia não é possível. Daí estes marcadores que fazem alertar os Governos, apoiados pelos especialistas. Se a Alemanha chegasse a este pavor numérico, estaria tudo confinado.
129 contagiados por 100 mil habitantes não é uma abstração, um número esotérico, um pormenor matemático, uma pirraça dos especialistas. É uma taxa muito grave para a nossa saúde pública, que está a um nível inaceitável, impossível de aguentar, por muito mais tempo. Não há hospitais, camas, UCI, médicos, enfermeiros e técnicos que aguentem esta pressão. Vê-se o resultado disso nas percentagens de ocupação do SNS. Nos avisos das Ordens.
A última coisa que nos poderia acontecer, oito meses depois, era ter de se seguir o que de pior aconteceu em Itália, e certamente noutros países, onde os médicos tiveram de escolher quem morria. Ou vivia. Isso tem um nome horrível, e uma história trágica. Só ficam os mais fortes, os mais saudáveis, os mais novos.