O primeiro-ministro (PM), de forma inesperada, decidiu alertar diretamente os portugueses para a gravidade da evolução da pandemia em Portugal. Falou antes de se conhecerem publicamente os números de hoje, mais de 2 mil contagiados, que foram analisados em Conselho de Ministros, e mais tarde, a ministra da Saúde avisou que podemos chegar aos 3 mil contágios diários nos próximos dias. Horas depois, só para termos uma ideia da gravidade da situação europeia, a França decretou o estado de emergência em cidades e regiões, com recolher obrigatório.
Também pela primeira vez, desde o estado de emergência, António Costa avisou que se a situação piorar, o que só pode acontecer, serão tomadas medidas mais restritivas, para não dizer de emergência, em algumas regiões. Pela primeira vez, há muito tempo, o primeiro ministro deixou cair a teimosia de que Portugal jamais voltaria a fechar, a confinar, em qualquer cenário. Disso já não falou o nosso PM, e muitos outros na Europa. A situação é muito grave, a Ordem dos Médicos avisa que o SNS não aguenta, que é necessário recorrer aos privados, e até isso o Governo está a ponderar, sabendo, como ninguém, que a pressão dos contágios e internamentos deixou de estar controlada.
A gravidade da evolução da Covid-19 já não dá para disfarçar, empurrar, deixar andar. Os nossos números, à nossa escala, são verdadeiramente preocupantes, e serão assustadores quando chegarmos aos 3 mil. Basta comparar com dois casos europeus, um que foi muito mau, no início, e outro que sempre teve um grande controlo na pandemia. A Itália registou hoje 7.300 novos contágios, e a Alemanha 5 mil. À nossa escala populacional, que depois se converte nos indicadores por 100 mil habitantes ou por um milhão, significa que estamos muito acima, muito mesmo, destes dois países. Se aplicado o número de contágios em Itália, com 60 milhões de habitantes, então deveríamos estar, apenas, com 1.200 casos. O cenário piora, obviamente, se fizermos a comparação com a Alemanha, porque tem uma população de 82 milhões e apenas 5 mil contágios.
É nisto que temos de nos concentrar. O que é que não estamos a fazer, ou a fazer mal, para que a nossa situação esteja neste ponto? Foi muito bom o Governo ter passado o País a estado de calamidade, introduzindo uma série de novas restrições e, em particular, obrigando ao uso de máscara na rua, e colocando as forças policiais a controlar a aplicação de todas as medidas. Vai chegar? Nem de longe. O vírus está disseminado na comunidade, e já não é possível conter a maioria dos surtos. Temos de nos preparar para voltar ao princípio.