Trump regressou à Casa Branca, três dias depois de estar hospitalizado, e percebeu que estava tudo mudado. Não era a mesma Casa Branca. A mesma Presidência. Os mais próximos, os mais requisitados, os mais operacionais, estão contagiados e internados, ou em vias disso. A Casa Branca está vazia, e setores vitais do Governo também estão em suspenso: Conselho de Segurança Nacional, Pentágono, Departamento de Estado. Trump voltou, em glória, tal e qual Kim Jong-Un, a acenar nas paradas de Pyongyong. O vírus de Trump teve um efeito colateral no cérebro do Presidente. Agravou o seu estado natural.
Forte, sem sinais de cianose, medicado com o mais inovador que existe no mercado, e em experiência, aterra de helicóptero, acena aos jornalistas, aparece na varanda, ladeado por duas bandeiras americanas, tira a máscara e faz a continência. A quem? E depois, como o general Pirro, olhou para trás, e não estava ninguém. Não tinha exército. Os que ficaram são poucos, de muito pouca importância na cadeia decisória, e porque são obrigados. E os que ainda não testaram positivo estão a inventar todas as desculpas para não aparecer na Casa Branca. Deus nos livre.
O regresso de Trump à Casa Branca faz lembrar o que disse Gorbachev quando aterrou na capital, depois de ter estado detido na Crimeia: Moscovo está diferente. Mudou tudo. Ainda era o Presidente da URSS, mas percebeu, de repente, que já nada disso existia. A História prega partidas. Repete-se, muitas vezes, mas com personagens diferentes e noutros paralelos.
Atiçado pelos medicamentos, em particular com os corticoides, Trump ainda não parou de twitar, e quer fazer tudo ao mesmo tempo: ir aos debates – esquece-se que Biden pode simplesmente dizer que não quer – fazer campanha, revelar ao pormenor a bula dos medicamentos que tomou, e garantir, como já fez, que o Covid19 não passa de uma gripe sem grandes problemas. Maníaco, e sem ninguém na Casa Branca, Trump finalmente tomou as rédeas do poder. Como sempre quis, e não o deixavam. Tem 26 dias para saber se fica.