Não, não é em Portugal Dra Graça Freitas. Fique tranquila. Já agora, a obrigação, e a necessidade, e o escrutínio sobre os números da Covid-19 não é um ato antipatriótico, uma traição à segurança nacional, uma fuga de documentos secretos. É uma exigência primária numa democracia, quando está em causa a saúde pública. Portugal não falseia os números – não dá é toda a informação – mas há cinco países campeões nessa arte.
Há poucos dias ficámos arrepiados, cabisbaixos, deprimidos com a passagem do primeiro milhão de mortos no mundo. Horrível. Mas onde isso é que já vai. Há milhões de mortos não contados, suprimidos, apagados. É, e vai ser, a maior falsidade do século. A maior fraude. O maior embuste. É fácil chegar lá, mesmo sem usar as tradicionais métricas epidemiológicas, porque essas só se aplicam com a informação oficial. O caminho tem de ser outro.
Tomemos como matriz os Estados Unidos, onde não é fácil inventar, reduzir, falsificar os dados. São tantas as agências de controlo, que seria impossível. Têm 327 milhões de habitantes, 7 milhões de contagiados, e 206 mil mortes. É uma brutalidade. Mas infelizmente são estes os números.
Compare-se com a Rússia: 144 milhões de habitantes e, oficialmente, tem 1.1 milhões de contagiados, e 20 mil mortes. Pois é. Só se for de algum medicamento desconhecido ou da tal vacina. Por extrapolação com os EUA, a Rússia, na verdade, deverá ter 3 milhões de contagiados e 90 mil mortes.
A Índia é um caso gritante de uma invenção extraordinária: tem 1.353 milhões de habitantes (repito 1.353 milhões), e os contagiados são apenas 6 milhões, e 95 mil mortes. A verdade deve ser avassaladora, e algumas notícias sobre isso já foram divulgadas. A India deverá estar muito próxima dos 28 milhões de contagiados, e 852 mil mortes. Quase um milhão. É o resultado da extrapolação ou comparação com os americanos. O vírus é o mesmo, e com uma população tão grande, e acumulada, e sem um sistema hospitalar incomensurável, dá em tragédia.
Da China nem vale a pena falar: eles têm mais 80 milhões de habitantes do que a Índia, 1.400 milhões, e a tese chinesa – esta é de cair para o lado – é que só existem 90 mil contagiados, e quase 5 mil mortes. É de subir as paredes. Basta usar os números da Índia para se perceber que estarão com 30 milhões de contagiados e quase 900 mil mortes.
E, já agora, a África do Sul, num continente que dá a ideia que quase não tem Covid-19. São 58 milhões de habitantes, 672 mil contagiados, e 16 mil mortes. Aplicada a mesma regra, contabilizam-se 1.2 milhões de contagiados, e 36 mil mortes.
Só em cinco países estão mais de 2 milhões de mortos. Só em cinco. Mas há mais um que serve de teste, positivo, à extrapolação a partir dos dados dos EUA: é o Brasil. Tem 210 milhões de habitantes, 4.7 milhões de infetados, e 142 mil mortes. É um número certo, ou muito perto da realidade, quando comparado com os EUA. Daí a perceção absoluta da falsidade dos outros dados. Se alguém se dedicar a fazer as mesmas contas, usando os mesmos critérios, então a mortalidade da Covid-19 no mundo é muito mais assustadora do que alguma vez pensámos. É brutal. São muitos milhões. E em alguns casos, continentes quase inteiros, como África, ninguém consegue perceber a realidade. Muitos Estados fracos, Governos sem dinheiro, e sistemas de saúde quase inexistentes. É o círculo mais baixo do Inferno de Dante. Um dia, daqui a muitos anos, vamos perceber a imensidão da tragédia.