Amy Barret, 48 anos, sete filhos, professora de direito e juíza federal foi a escolha de Trump para o Supremo. Tem um grande problema, dizem os democratas no Congresso, nos media, e em tudo o que é rede social: é católica romana. Convicta. Não pode ser! Isso é um grande pecado. Uma restrição para o cargo. Acredita no dogma da Santíssima Trindade. Inadmissível para um supremo juiz. Sendo católica é conservadora, de direita, obediente aos mandamentos da Igreja. Não pode passar no Senado. Nomeada já está, mas a maioria republicana tem de confirmar. Já a partir do dia 12 de outubro.
Ouvidos os argumentos, de fé e não de direito, Amy Barret começou já a enfrentar o maior e mais impiedoso escrutínio à sua vida pessoal, do marido, pais e avós, filhos, amigos, finanças pessoais e qualquer pequeno segredo, desde que nasceu. Na verdade, existem dois escrutínios, em simultâneo: um do FBI, obrigatório, e outro dos media, senadores, políticos democratas, amigos e menos amigos, que vão ver tudo o que disse, escreveu ou decidiu enquanto juíza. Poucos se sujeitam a tamanho reviralho nas suas vidas. Mas ser Juiz do Supremo é para muito poucos: só 115 desde que foi criado, em 1789, sendo que juízes chefes, ou presidentes do SCOTUS, só existiram 15.
A batalha política no Senado vai ser dura, extremada, onde os democratas farão tudo para atrasar o processo de confirmação, e os republicanos, que já garantiram a maioria para esta nomeação, não deixarão escorregar o calendário para novembro. Por todas as razões. Tirando ou incluindo todo o tipo de surpresas, denúncias, supostos factos impeditivos, Amy Barret vai ser a mais nova Juíza do Supremo dos EUA, mesmo sendo católica. Tal como 22% dos americanos. É a segunda maior religião nos EUA, e uma das maiores congregações do mundo.
Onde se vão centrar os argumentos dos democratas e opositores? Na pena de morte e no aborto. Também obviamente no Obamacare, cuja decisão do Supremo está para breve, mais imigração, porte de armas e outras sacrossantas leis americanas. Amy, à cautela, já repetiu o que sempre disse como juíza: a religião não se confunde com a lei. Sendo uma “textualista” – interpreta com rigor o texto da Constituição e Leis americanas – isso dá-lhe uma grande vantagem e consistência.
O que é muito curioso, e de uma imensa ironia, é que Biden também é católico, e nunca ninguém lhe perguntou o que faria se lhe chegasse um pedido de comutação de uma sentença de morte. Ou sobre o aborto. Amy Barret tem apenas um problema: foi nomeada por Trump. Está tudo dito.