É péssimo, muito mau, desanimador e irritante estar sempre a dizer que caminhamos para um desastre devastador. A passos largos, e sem grandes preocupações. Parece a história do Pedro e do Lobo. Vem aí, vem aí, e quando já ninguém queria saber, veio mesmo.
A Scientific Reports da Nature não podia ser mais premonitória: a segunda vaga pandémica é «uma ameaça iminente» e vai ter «um custo imenso em termos de vidas humanas e um impacto económico devastador». É exagerado? O assessor do Governo alemão para a pandemia, um caso exemplar de desempenho médico e sanitário, que nunca perdeu tempo em tomar medidas restritivas, também garante que a partir de Outubro é que vamos ter a «verdadeira pandemia». Como sempre, a Alemanha, em avanço, já está a preparar-se para o pior, e não terá nenhuma hesitação em confinar regiões, cidades, bairros, o que for necessário.
Vamos ter um desastre em Portugal. Está à vista. Não temos nada que os outros não tenham. Não somos um santuário. Nunca fomos. E o verdadeiro drama é a posição e decisão anunciada pelo Governo, que não tem nenhuma opção. Ou não quer usar. O desastre começa aqui. Sabemos que o caminho é errado, vemos o que os outros estão a fazer, e a preparar, e toda a nossa classe política e decisória está quieta e parada. E, por favor, de uma vez por todas, não nos falem mais do modelo sueco, que é uma mentira. E serve bem para comparação connosco. Não fazendo nada eles já vão com 6 mil mortes, e nós ainda nem 2 mil, mas sem restrições vamos chegar lá rapidamente.
É péssimo e desanimador falar de desastres. Mas também é péssimo e desanimador perceber que ninguém quer saber. Até um dia destes.